Identidade
revelada: ele é Rob Moore ou também chamado pela imprensa internacional de o “Mata
Hari” do Amianto
Apenas relembrando alguns
detalhes desta história rocambolesca de espionagem, num misto de James Bond e
Robin Hood, que durou aproximadamente 4 anos e que vimos denunciando
sistematicamente nas redes sociais.
O protagonista do
ASBESTOSGATE se chama Robert Moore, Rob para os íntimos, um charmoso espião
cinquentão, de olhos penetrantes e que, diferentemente de seu conterrâneo
britânico Bond, se apresentava como um pobre cineasta, jornalista e
documentarista interessado em denunciar, com seu trabalho pro bono, as mazelas da indústria do amianto e se juntar ao lado da
Rede Ban Asbestos, um exército de “jedis” pelo banimento do amianto e justiça
para as vítimas, na sua luta incansável contra “o lado negro da força”, que
defende o indefensável amianto.
Desvendado
o segredo do anti-herói: Rob foi contratado como consultor em
2012 pela K2 Intelligence Limited (www.k2intelligence.com), empresa líder em “serviços de investigação,
conformidade e defesa cibernética”, que foi fundada em 2009 por Jeremy M. Kroll
e Jules B. Kroll, o criador da moderna indústria de investigações corporativas;
em outras palavras: ALTA ESPIONAGEM
INDUSTRIAL A SERVIÇO DE GRUPOS EMPRESARIAIS PODEROSOS. Por seus
serviços, não tão pro bono como
anunciado, o mesmo recebeu em honorários e reembolsos cifra em torno de 2
milhões de reais (aproximadamente 470 mil libras esterlinas). Pelo volume de
recursos empregados, é justo supor que são uma ou mais empresas do
amianto, estados/governos produtores de amianto ou seguradoras destas indústrias.
A K2 tem escritórios em Nova Iorque, Londres,
Madri, Tel Aviv, Genebra e Los Angeles. A sua sede fica nos EUA. Seu Diretor
Executivo em Londres, onde começa a nossa história, é Matteo Bigazzi, que
também atuou em Milão. Ele, tal qual os fundadores da K2 também estiveram
ligados à empresa de espionagem muito conhecida no Brasil – a Kroll Associates,
e onde ele liderou casos que vão desde “investigações de fraude e corrupção, prevenção
de fraude e programas de recuperação de corrupção até processos de "due diligence"
(diligências
prévias, em geral voluntárias) e pesquisa de ativos. Por
aqui a Kroll esteve envolvida em denúncias envolvendo o banqueiro Daniel
Dantas, a TELECOM Itália, operação lava-jato e Petrobrás, Eduardo Cunha e
contratos milionários de espionagem, como se pode rapidamente depreender em
matéria do “Valor Econômico” (http://www.valor.com.br/politica/3978024/cpi-petrobras-camara-contrata-firma-de-investigacao-por-r-1-milhao).
Esta introdução se faz
necessária para entendermos de quem estamos falando e quem são estes
personagens que cruzaram a vida dos jedis
anti-amianto.
Aqui a cronologia de como se
deu a abordagem do Mata Hari do amianto. Preservo a identidade de quem nos
forneceu os documentos oficiais, depositados na Corte Britânica, para garantir
sua segurança pessoal:
1) Moore
apresentou-se, inicialmente, como um cineasta realizador de documentários a
trabalho de uma produtora que desejava fazer um material jornalístico sobre os
perigos do amianto. Ele nos enviou o e-mail de um endereço associado com uma
empresa de produção de TV verdadeira na qual trabalhou como produtor - a Greg Atkins Productions cujo website é o www.gregatkins.tv
2) Objetivos: obter
informações pessoais e / ou confidenciais dos ativistas anti-amianto sobre possíveis
financiamentos, metas e estratégias, incluindo as que envolviam litígios da
Rede Ban Asbestos, visando assim beneficiar os clientes da K2.
3) Fica
patente pelas informações obtidas no volumoso processo instaurado na Justiça britânica
conta Moore, Bigazzi e K2 - parte destes documentos ainda mantidos sob sigilo -,
que os dois réus conceberam uma estratégia conjunta para a obtenção de informações
eminentemente confidenciais.
4) Em essência, cabia a Moore ganhar a confiança dos
ativistas sob o pretexto de que era um jornalista interessado em fazer um
documentário sobre a indústria do amianto. Posteriormente, buscou obter informações
confidenciais e / ou pessoal e / ou privada sob o pretexto de que ele precisava
de tais informações para fazer o tal documentário e / ou criar uma instituição
de caridade chamada STOP ABESTOS destinada às doenças relacionadas ao amianto,
dando assim a impressão de que os seus interesses estavam alinhados com aqueles
dos militantes anti-amianto.
5) Como
estratégia de abordagem, revelada nos autos, Moore realizou pesquisas para dar
credibilidade à sua cobertura jornalística. Entre outros, ele menciona:
"Pude identificar várias notícias de base, sob diversos ângulos e temas
que seriam de interesse genuíno para um cineasta documentarista e estou
confiante de que posso entrar neste mundo com relativa facilidade e com alto nível
de legitimidade e credibilidade". Mais adiante declara: "Eu gostaria
de me aproximar da forma mais natural e da maneira mais emocional possível para
que se possa estabelecer uma conexão tanto intelectual quanto emocional com as
lideranças”, que ele descreve “respeitosamente” em seu relatório a Bigazzi como
“gangue”.
6) Ele acrescenta:
para "fazer a minha entrada parecer menos deliberada e menos suspeita não
posso chegar com um cartão de visita feito sob medida, pois posso parecer bom
demais para ser verdade, não é?”. Em seu relatório também ele explica como estabelecerá
contatos iniciais com outras pessoas que trabalham em organizações
internacionais como a OIT-Organização Internacional do Trabalho e a revista
inglesa Hazards, para que isto possa facilitar sua apresentação aos ativistas.
O Relatório explica que, conforme ele for construindo a confiança junto às
lideranças, ele poderá começar a fazer perguntas mais detalhadas sobre a Rede:
"quanto melhor eu explorar suas reivindicações, mais capacitado fico para
fazer as perguntas-chaves. Esse é um ponto importante. Não apenas para a
maneira de entrarmos, mas também como sairmos”.
7) Moore
afirma ainda ao chefe: "Acho que posso obter respostas para as perguntas
que nos foram feitas, embora seja difícil prever que tipo de evidência concreta
eu posso reunir, mostrando que a Rede é uma frente para escritórios de
advocacia nos EUA”. Este é um tema constante das instruções da K2 para Moore –
estabelecer esta conexão entre membros da Rede e financiamento das ações
anti-amianto por advogados americanos. Fica claro que o objetivo do trabalho de
Moore era descobrir informações que poderiam ser utilizadas para sugerir que a
Rede estava sendo financiada com um interesse financeiro - ou seja, promover
advogados e / ou aqueles no mercado de substituição do amianto - o das fibras
alternativas, ao invés de qualquer outro motivo para proibir o uso do amianto
por razões de saúde, e com isto, manchar e desacreditar a reputação da Rede aos
olhos dos Estados e organizações onde gozam de relativo prestígio.
8) Segundo
documentos obtidos, é importante afirmar, para que conste registrado que,
durante o período de quatro anos que Moore trabalhou em segredo, bisbilhotando
a Rede, ele não encontrou nenhuma evidência que prove que os motivos da Rede
não fossem altruístas ou que os ativistas estariam recebendo financiamento secreto
de advogados, empresas de materiais de substituição ou de remoção de amianto.
Ele repetidamente reportou estas questões a Bigazzi.
9) Moore
planejou também estabelecer um falso site de campanha, como forma de
"poder fazer perguntas-chaves” sem levantar suspeitas. "O site Britishspring.org
permitirá que eu pergunte questões mais pessoais sobre como se organizou a Rede,
como é administrada, como conseguiu expandir-se para produzir campanhas de relacionamento
em outras partes do mundo e como tudo isso é financiado? Quanto mais tempo eu
puder desenvolver a minha relação com os ativistas, mais profundas e mais
pessoais poderão ser as minhas perguntas, e será mais provável de obter as
respostas mais verdadeiras".
10) Moore
desistiu do tal site, que seria chamado Britishspring.org, mas criou um outro
para uma instituição de caridade que foi denominada Stop Asbestos (Pare o Amianto), http://www.stopasbestos.org/ que
mais uma vez era uma camuflagem, uma fachada, de modo que ele teria uma
desculpa para continuar a se infiltrar na Rede. UMA VERDADEIRA FRAUDE!
11) Moore
sugere, então, ao Chefe Bigazzi que também vale a pena investir em um
documentário "piloto", porque isso "poderia ser muito bom para a
minha credibilidade com o movimento de proibição do amianto e eu acho que isso poderia ajudar a chegarmos mais longe
em nossa trajetória". Nos perguntamos até onde ele pretendia chegar se não
tivesse sido desmascarado?
12) No período
em que trabalhou para K2, Moore participou de diversas
conferências no Reino Unido, em vários países da Ásia, em Washington etc. O relatório sobre as conferências de Liverpool e Bruxelas para a K2 mostra claramente quais são as "áreas-chaves de atuação". Entre
elas, estão:
o
Quais
são os planos do movimento de proibição do amianto para o Canadá?
o
Quais
são os planos do movimento de proibição do amianto para a Tailândia?
o
Quais
são os planos do movimento de proibição do amianto para a Índia?
o
Quem
financia o movimento de proibição do amianto? Quem o conduz? Outras observações
das conferências de Liverpool e Bruxelas.
o
Novas
Direções para Ativismo.
o
Novos
Mercados de crescimento para advogados.
o
Perguntas
pendentes.
13) O
relatório de Moore estabelece não apenas as estratégias confidenciais de
campanha e litígios da Rede, mas também informações pessoais sobre os ativistas.
O relatório é um excelente exemplo do modelo como Moore e K2 operam. Ele espionou
os procedimentos, os participantes às conferências e alargou o seu grupo de contatos
para abordagens futuras. Ele lista aqueles a quem sugere contatos. Estou entre
eles.
14) Este
modus operandi permitiu que Moore e a
K2 tivessem acesso a informações que nunca teriam sido divulgadas a ele, se o
seu verdadeiro papel fosse conhecido. Por exemplo, a Tailândia tornou-se um
país de interesse para Moore e a K2 porque parecia estar à beira de impor uma
proibição nacional à utilização do amianto.
15) K2
enviou a Moore um breve pano de fundo para a visita à Tailândia, dizendo que
"o cliente (ou clientes ainda não revelados) gostaria de descobrir o
máximo possível sobre os planos locais da campanha tailandesa, incluindo:
estratégia, o tempo das ações, os contatos dentro do governo, o papel da SCG e
de outras indústrias, OMS, expectativas, o que eles sabem sobre o povo anti-ban".
Moore mais tarde enviou a K2 uma lista de potenciais entrevistados na
Tailândia, incluindo tópicos para discutir e dizendo que ele "realmente
apreciaria algum feedback e orientação para o que deveria buscar doravante”.
16) O
produto final da visita tailandesa de Moore foi o "Relatório Provisório
sobre o Progresso da Proibição do Amianto na Tailândia", que incluía uma
quantidade extraordinária de informações confidenciais e sensíveis, detalhando,
por exemplo, as divisões internas entre diferentes Ministérios sobre a
conveniência e a probabilidade de uma proibição, os argumentos que estão sendo
utilizados pelo governo, as opiniões dos militantes pró-proibição sobre as
forças que se opõem à proibição, táticas da indústria do amianto contra os
ativistas e as respostas àquelas táticas.
17) Entre
os alvos subsequentes estavam tanto a Organização Mundial da Saúde (OMS) como
outras Agências das Nações Unidas com ações sobre o amianto, como a UNEP/PNUMA
(Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente).
18) Para
dar maior credibilidade ao seu “atestado de pobreza”, ele angariou junto aos
ativistas algo em torno de 10 mil libras para dar andamento à ONG STOP
ASBESTOS, como conseguiu que boa parte de suas despesas para participação nos
congressos fossem subvencionadas pelos organizadores.
19) O papel de Bigazzi e da K2 - Em
um vídeo intitulado "História de Sucesso", disponível no site da K2,
Jeremy Kroll afirma "Quando um cliente chama a K2, estamos ajudando-o a
identificar e / ou resolver o problema antes que se torne uma crise em larga
escala". No mesmo vídeo Jules Kroll diz "O que me faz mais orgulhoso
é o que nós viemos representar. Bons resultados, resultados honestos e pessoas
que se orgulham de vir trabalhar todos os dias porque sentimos que nossa missão
é uma missão importante”. Nota-se que, como parte do contrato inicial com K2, o
“consultor” é obrigado a assinar uma Declaração de Ética Comercial, que inclui
a sentença "Eu não me envolverei em ações desonestas, impróprias ou
ilícitas, nem me envolverei em ações ilegais durante a realização de qualquer missão".
Os documentos divulgados demonstram que tais afirmações estão inteiramente em
desacordo com as modalidades e estratégias efetivas acordadas entre Bigazzi em
nome da K2 e Rob Moore.
Por fim, depois deste
nauseante relato, devo dizer que há ainda muitas informações nebulosas e que
estão ainda sob sigilo, mas o mais importante, e esperamos que a Corte
britânica seja eficiente nisto, é obter a informação do nome de todas as
empresas e estados/governos que patrocinaram esta ação criminosa de espionagem,
quais foram as informações de nossos movimentos que foram repassadas aos
criminosos envolvidos e avaliar a extensão dos danos causados por esta ação,
individual e coletivamente, riscos para nossa segurança pessoal e, bem como,
punir exemplarmente os envolvidos direta e indiretamente nesta ação ilícita. Da
nossa parte, daremos grande visibilidade ao fato para coibir e/ou desencorajar
ações semelhantes em nosso país.
Excelente, conheci sua luta contra o amianto através da matéria do Viomundo e já postei tanto a matéria do Viomundo como a sua pág sobre o caso, no facebook, para que mais pessoas conheçam e pq de fato a divulgação é um fator de proteção para vocês. As pessoas pensam que coisas assim são 'teorias da conspiração', pois eu percebo, por tudo que leio, que são procedimentos comuns no mundo do capital. Essa história também mostra como eles conseguem desarticular e deslegitimar movimentos contrários ao capital e, no caso da Tailândia (e tantos outros que se lê na imprensa e nos blogs), influenciar governos, congressos, etc.
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