quinta-feira, 29 de dezembro de 2016

ASBESTOSGATE: CONHEÇA AQUI AS TÁTICAS UTILIZADAS PELO ESPIÃO INGLÊS PARA SE INFILTRAR NO MOVIMENTO MUNDIAL ANTI-AMIANTO NA DEFESA DOS INTERESSES DA CRIMINOSA INDÚSTRIA DO AMIANTO



Identidade revelada: ele é Rob Moore ou também chamado pela imprensa internacional de o “Mata Hari” do Amianto




      Apenas relembrando alguns detalhes desta história rocambolesca de espionagem, num misto de James Bond e Robin Hood, que durou aproximadamente 4 anos e que vimos denunciando sistematicamente nas redes sociais.

O protagonista do ASBESTOSGATE se chama Robert Moore, Rob para os íntimos, um charmoso espião cinquentão, de olhos penetrantes e que, diferentemente de seu conterrâneo britânico Bond, se apresentava como um pobre cineasta, jornalista e documentarista interessado em denunciar, com seu trabalho pro bono, as mazelas da indústria do amianto e se juntar ao lado da Rede Ban Asbestos, um exército de “jedis” pelo banimento do amianto e justiça para as vítimas, na sua luta incansável contra “o lado negro da força”, que defende o indefensável amianto.

Desvendado o segredo do anti-herói: Rob foi contratado como consultor em 2012 pela K2 Intelligence Limited (www.k2intelligence.com), empresa líder em “serviços de investigação, conformidade e defesa cibernética”, que foi fundada em 2009 por Jeremy M. Kroll e Jules B. Kroll, o criador da moderna indústria de investigações corporativas; em outras palavras: ALTA ESPIONAGEM INDUSTRIAL A SERVIÇO DE GRUPOS EMPRESARIAIS PODEROSOS. Por seus serviços, não tão pro bono como anunciado, o mesmo recebeu em honorários e reembolsos cifra em torno de 2 milhões de reais (aproximadamente 470 mil libras esterlinas). Pelo volume de recursos empregados, é justo supor que são uma ou mais empresas do amianto, estados/governos produtores de amianto ou seguradoras destas indústrias.

A K2 tem escritórios em Nova Iorque, Londres, Madri, Tel Aviv, Genebra e Los Angeles. A sua sede fica nos EUA. Seu Diretor Executivo em Londres, onde começa a nossa história, é Matteo Bigazzi, que também atuou em Milão. Ele, tal qual os fundadores da K2 também estiveram ligados à empresa de espionagem muito conhecida no Brasil – a Kroll Associates, e onde ele liderou casos que vão desde “investigações de fraude e corrupção, prevenção de fraude e programas de recuperação de corrupção até processos de "due diligence" (diligências prévias, em geral voluntárias) e pesquisa de ativos. Por aqui a Kroll esteve envolvida em denúncias envolvendo o banqueiro Daniel Dantas, a TELECOM Itália, operação lava-jato e Petrobrás, Eduardo Cunha e contratos milionários de espionagem, como se pode rapidamente depreender em matéria do “Valor Econômico” (http://www.valor.com.br/politica/3978024/cpi-petrobras-camara-contrata-firma-de-investigacao-por-r-1-milhao).

Esta introdução se faz necessária para entendermos de quem estamos falando e quem são estes personagens que cruzaram a vida dos jedis anti-amianto.

Aqui a cronologia de como se deu a abordagem do Mata Hari do amianto. Preservo a identidade de quem nos forneceu os documentos oficiais, depositados na Corte Britânica, para garantir sua segurança pessoal:

1)   Moore apresentou-se, inicialmente, como um cineasta realizador de documentários a trabalho de uma produtora que desejava fazer um material jornalístico sobre os perigos do amianto. Ele nos enviou o e-mail de um endereço associado com uma empresa de produção de TV verdadeira na qual trabalhou como produtor - a Greg Atkins Productions cujo website é o www.gregatkins.tv

2)   Objetivos: obter informações pessoais e / ou confidenciais dos ativistas anti-amianto sobre possíveis financiamentos, metas e estratégias, incluindo as que envolviam litígios da Rede Ban Asbestos, visando assim beneficiar os clientes da K2.

3)   Fica patente pelas informações obtidas no volumoso processo instaurado na Justiça britânica conta Moore, Bigazzi e K2 - parte destes documentos ainda mantidos sob sigilo -, que os dois réus conceberam uma estratégia conjunta para a obtenção de informações eminentemente confidenciais.

4)    Em essência, cabia a Moore ganhar a confiança dos ativistas sob o pretexto de que era um jornalista interessado em fazer um documentário sobre a indústria do amianto. Posteriormente, buscou obter informações confidenciais e / ou pessoal e / ou privada sob o pretexto de que ele precisava de tais informações para fazer o tal documentário e / ou criar uma instituição de caridade chamada STOP ABESTOS destinada às doenças relacionadas ao amianto, dando assim a impressão de que os seus interesses estavam alinhados com aqueles dos militantes anti-amianto.

5)   Como estratégia de abordagem, revelada nos autos, Moore realizou pesquisas para dar credibilidade à sua cobertura jornalística. Entre outros, ele menciona: "Pude identificar várias notícias de base, sob diversos ângulos e temas que seriam de interesse genuíno para um cineasta documentarista e estou confiante de que posso entrar neste mundo com relativa facilidade e com alto nível de legitimidade e credibilidade". Mais adiante declara: "Eu gostaria de me aproximar da forma mais natural e da maneira mais emocional possível para que se possa estabelecer uma conexão tanto intelectual quanto emocional com as lideranças”, que ele descreve “respeitosamente” em seu relatório a Bigazzi como “gangue”.

6)   Ele acrescenta: para "fazer a minha entrada parecer menos deliberada e menos suspeita não posso chegar com um cartão de visita feito sob medida, pois posso parecer bom demais para ser verdade, não é?”. Em seu relatório também ele explica como estabelecerá contatos iniciais com outras pessoas que trabalham em organizações internacionais como a OIT-Organização Internacional do Trabalho e a revista inglesa Hazards, para que isto possa facilitar sua apresentação aos ativistas. O Relatório explica que, conforme ele for construindo a confiança junto às lideranças, ele poderá começar a fazer perguntas mais detalhadas sobre a Rede: "quanto melhor eu explorar suas reivindicações, mais capacitado fico para fazer as perguntas-chaves. Esse é um ponto importante. Não apenas para a maneira de entrarmos, mas também como sairmos”.

7)   Moore afirma ainda ao chefe: "Acho que posso obter respostas para as perguntas que nos foram feitas, embora seja difícil prever que tipo de evidência concreta eu posso reunir, mostrando que a Rede é uma frente para escritórios de advocacia nos EUA”. Este é um tema constante das instruções da K2 para Moore – estabelecer esta conexão entre membros da Rede e financiamento das ações anti-amianto por advogados americanos. Fica claro que o objetivo do trabalho de Moore era descobrir informações que poderiam ser utilizadas para sugerir que a Rede estava sendo financiada com um interesse financeiro - ou seja, promover advogados e / ou aqueles no mercado de substituição do amianto - o das fibras alternativas, ao invés de qualquer outro motivo para proibir o uso do amianto por razões de saúde, e com isto, manchar e desacreditar a reputação da Rede aos olhos dos Estados e organizações onde gozam de relativo prestígio.

8)   Segundo documentos obtidos, é importante afirmar, para que conste registrado que, durante o período de quatro anos que Moore trabalhou em segredo, bisbilhotando a Rede, ele não encontrou nenhuma evidência que prove que os motivos da Rede não fossem altruístas ou que os ativistas estariam recebendo financiamento secreto de advogados, empresas de materiais de substituição ou de remoção de amianto. Ele repetidamente reportou estas questões a Bigazzi.

9)   Moore planejou também estabelecer um falso site de campanha, como forma de "poder fazer perguntas-chaves” sem levantar suspeitas. "O site Britishspring.org permitirá que eu pergunte questões mais pessoais sobre como se organizou a Rede, como é administrada, como conseguiu expandir-se para produzir campanhas de relacionamento em outras partes do mundo e como tudo isso é financiado? Quanto mais tempo eu puder desenvolver a minha relação com os ativistas, mais profundas e mais pessoais poderão ser as minhas perguntas, e será mais provável de obter as respostas mais verdadeiras".

10)  Moore desistiu do tal site, que seria chamado Britishspring.org, mas criou um outro para uma instituição de caridade que foi denominada Stop Asbestos (Pare o Amianto), http://www.stopasbestos.org/ que mais uma vez era uma camuflagem, uma fachada, de modo que ele teria uma desculpa para continuar a se infiltrar na Rede. UMA VERDADEIRA FRAUDE!

11)    Moore sugere, então, ao Chefe Bigazzi que também vale a pena investir em um documentário "piloto", porque isso "poderia ser muito bom para a minha credibilidade com o movimento de proibição do      amianto e eu acho que isso poderia ajudar a chegarmos mais longe em nossa trajetória". Nos perguntamos até onde ele pretendia chegar se não tivesse sido desmascarado?

12)    No período em que trabalhou para K2, Moore participou de diversas conferências no Reino Unido, em vários países da          Ásia, em Washington etc. O relatório sobre as conferências          de Liverpool e Bruxelas para a K2 mostra claramente quais são as "áreas-chaves de atuação". Entre elas, estão:

o   Quais são os planos do movimento de proibição do amianto para o Canadá?

o   Quais são os planos do movimento de proibição do amianto para a Tailândia?

o   Quais são os planos do movimento de proibição do amianto para a Índia?

o   Quem financia o movimento de proibição do amianto? Quem o conduz? Outras observações das conferências de Liverpool e Bruxelas.

o   Novas Direções para Ativismo.

o   Novos Mercados de crescimento para advogados.

o   Perguntas pendentes.

13)    O relatório de Moore estabelece não apenas as estratégias confidenciais de campanha e litígios da Rede, mas também informações pessoais sobre os ativistas. O relatório é um excelente exemplo do modelo como Moore e K2 operam. Ele espionou os procedimentos, os participantes às conferências e alargou o seu grupo de contatos para abordagens futuras. Ele lista aqueles a quem sugere contatos. Estou entre eles.

14)    Este modus operandi permitiu que Moore e a K2 tivessem acesso a informações que nunca teriam sido divulgadas a ele, se o seu verdadeiro papel fosse conhecido. Por exemplo, a Tailândia tornou-se um país de interesse para Moore e a K2 porque parecia estar à beira de impor uma proibição nacional à utilização do amianto.

15)    K2 enviou a Moore um breve pano de fundo para a visita à Tailândia, dizendo que "o cliente (ou clientes ainda não revelados) gostaria de descobrir o máximo possível sobre os planos locais da campanha tailandesa, incluindo: estratégia, o tempo das ações, os contatos dentro do governo, o papel da SCG e de outras indústrias, OMS, expectativas, o que eles sabem sobre o povo anti-ban". Moore mais tarde enviou a K2 uma lista de potenciais entrevistados na Tailândia, incluindo tópicos para discutir e dizendo que ele "realmente apreciaria algum feedback e orientação para o que deveria buscar doravante”.

16)    O produto final da visita tailandesa de Moore foi o "Relatório Provisório sobre o Progresso da Proibição do Amianto na Tailândia", que incluía uma quantidade extraordinária de informações confidenciais e sensíveis, detalhando, por exemplo, as divisões internas entre diferentes Ministérios sobre a conveniência e a probabilidade de uma proibição, os argumentos que estão sendo utilizados pelo governo, as opiniões dos militantes pró-proibição sobre as forças que se opõem à proibição, táticas da indústria do amianto contra os ativistas e as respostas àquelas táticas.

17)    Entre os alvos subsequentes estavam tanto a Organização Mundial da Saúde (OMS) como outras Agências das Nações Unidas com ações sobre o amianto, como a UNEP/PNUMA (Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente).

18)    Para dar maior credibilidade ao seu “atestado de pobreza”, ele angariou junto aos ativistas algo em torno de 10 mil libras para dar andamento à ONG STOP ASBESTOS, como conseguiu que boa parte de suas despesas para participação nos congressos fossem subvencionadas pelos organizadores.

19)    O papel de Bigazzi e da K2 - Em um vídeo intitulado "História de Sucesso", disponível no site da K2, Jeremy Kroll afirma "Quando um cliente chama a K2, estamos ajudando-o a identificar e / ou resolver o problema antes que se torne uma crise em larga escala". No mesmo vídeo Jules Kroll diz "O que me faz mais orgulhoso é o que nós viemos representar. Bons resultados, resultados honestos e pessoas que se orgulham de vir trabalhar todos os dias porque sentimos que nossa missão é uma missão importante”. Nota-se que, como parte do contrato inicial com K2, o “consultor” é obrigado a assinar uma Declaração de Ética Comercial, que inclui a sentença "Eu não me envolverei em ações desonestas, impróprias ou ilícitas, nem me envolverei em ações ilegais durante a realização de qualquer missão". Os documentos divulgados demonstram que tais afirmações estão inteiramente em desacordo com as modalidades e estratégias efetivas acordadas entre Bigazzi em nome da K2 e Rob Moore.

Por fim, depois deste nauseante relato, devo dizer que há ainda muitas informações nebulosas e que estão ainda sob sigilo, mas o mais importante, e esperamos que a Corte britânica seja eficiente nisto, é obter a informação do nome de todas as empresas e estados/governos que patrocinaram esta ação criminosa de espionagem, quais foram as informações de nossos movimentos que foram repassadas aos criminosos envolvidos e avaliar a extensão dos danos causados por esta ação, individual e coletivamente, riscos para nossa segurança pessoal e, bem como, punir exemplarmente os envolvidos direta e indiretamente nesta ação ilícita. Da nossa parte, daremos grande visibilidade ao fato para coibir e/ou desencorajar ações semelhantes em nosso país.




Um comentário:

  1. Excelente, conheci sua luta contra o amianto através da matéria do Viomundo e já postei tanto a matéria do Viomundo como a sua pág sobre o caso, no facebook, para que mais pessoas conheçam e pq de fato a divulgação é um fator de proteção para vocês. As pessoas pensam que coisas assim são 'teorias da conspiração', pois eu percebo, por tudo que leio, que são procedimentos comuns no mundo do capital. Essa história também mostra como eles conseguem desarticular e deslegitimar movimentos contrários ao capital e, no caso da Tailândia (e tantos outros que se lê na imprensa e nos blogs), influenciar governos, congressos, etc.

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