Sr. Ministro do Trabalho e Emprego,
Chegou ao nosso conhecimento as inúmeras pressões que o senhor vem recebendo do lobby pró-amianto na tentativa da revogação da Nota Técnica 141/2014 no apagar de sua administração no Ministério do Trabalho e Emprego. (ver em http://giovanicherini.com/giovani-cherini-busca-solucao-para-risco-de-desempregos-de-trabalhadores-de-amianto/)
Chegou ao nosso conhecimento as inúmeras pressões que o senhor vem recebendo do lobby pró-amianto na tentativa da revogação da Nota Técnica 141/2014 no apagar de sua administração no Ministério do Trabalho e Emprego. (ver em http://giovanicherini.com/giovani-cherini-busca-solucao-para-risco-de-desempregos-de-trabalhadores-de-amianto/)
Como o senhor deve saber, o amianto é uma das matérias-primas mais estudadas em todo o mundo por seus consabidos riscos à saúde tanto dos trabalhadores e trabalhadoras, diretamente expostos, como da população indireta ou ambientalmente em contato com a poeira deste mineral reconhecidamente cancerígeno para os seres humanos.
O amianto já foi banido em 68 países e em 7 estados brasileiros. É considerado a catástrofe sanitária do século XX.
Como Auditora-Fiscal do Trabalho por 30 anos na SRTE/SP e Coordenadora do Programa Estadual do Amianto, hoje aposentada, fui uma das autoras, em 1991, da revisão do Anexo 12 da NR-15, que regulamentou a Convenção 162 da OIT, através da Portaria 001/91. Coordenei com o emérito e saudoso professor Dr. Diogo Pupo Nogueira, da Faculdade de Saúde Pública da USP, o grupo tripartite que reviu o Anexo 12 e cuja redação proposta em 1991 permanece até hoje, tais os avanços que ela introduziu, tais como obrigatoriedade de lavagem dos uniformes, vestiário duplo para separação dos ambientes com roupas e objetos pessoais dos de trabalho contaminados e exames médicos pós findo o contrato de trabalho ou exposição, por no mínimo 30 anos.
Estas exigências para o mineral letal amianto são únicas em nossa legislação trabalhista e perduram por 24 anos. Foram aceitas pelo patronato, que estava legitimamente representado no grupo de trabalho da revisão, sem contestação, pois assumiram ali os riscos e responsabilidades inerentes à manutenção de sua atividade perigosa.
Em nenhum momento se discutiu a exclusão das obrigações de algum setor da cadeia produtiva do amianto, tanto que o item 1 e subitem 1.2 do Anexo 12 da NR-15 são bem claros quando determinam que:
1. O presente anexo aplica-se a todas e quaisquer atividades nas quais os trabalhadores estão expostos ao asbesto no exercício do trabalho.
1.2. Entende-se por "exposição ao asbesto" a exposição no trabalho às fibras de asbesto respiráveis ou poeira de asbesto em suspensão no ar originada pelo asbesto ou por minerais, materiais ou produtos que contenham asbesto.
Portanto, não há que se falar na exclusão do comércio das obrigações trabalhistas, já que eles assumiram todos os ônus de comercializarem um material que contém a fibra cancerígena do amianto.
Há de se estranhar que este protesto do setor de comércio e de seus porta-vozes venha somente após 24 anos da legislação estar em vigor. Por que não houve manifestações de discordância quando da aprovação da revisão, através da Portaria 01/1991?
Será que esta grita, vinda principalmente do setor industrial e do Instituto propagandista Brasileiro do Crisotila (IBC), não se deve ao fato que os comerciantes, preocupados com suas responsabilidades não só trabalhistas, mas também relacionadas ao Código de Direito do Consumidor, estão declinando do amianto, preferindo negociar materiais menos tóxicos, e estão usando como desculpa os custos de se enquadrarem às exigências do Anexo 12 da NR-15?
E o que se falar de uma entidade pseudo representante de trabalhadores, a chamada CNTA-Comissão Nacional dos Trabalhadores do Amianto, ligada à CNTI/Nova Central, que se apresenta em defesa do indefensável amianto? A CNTA é sabidamente financiada pelo Instituto Brasileiro do Crisotila (IBC) e foi denunciada por diversas vezes por nós à OIT-Organização Internacional do Trabalho. Tem membros, inclusive, na diretoria do IBC. Já lhe ocorreu perguntar a quem de fato representam?
Definitivamente a CNTA não representa os doentes vitimados pelo amianto, que se organizaram em associações de expostos em vários estados brasileiros.
Definitivamente a CNTA não representa os doentes vitimados pelo amianto, que se organizaram em associações de expostos em vários estados brasileiros.
Como representante do Ministério do Trabalho e Emprego, nos 30 anos que atuei na Auditoria-Fiscal, acompanhei a formação destas associações de vítimas, cujos membros vinham com frequência aos nossos plantões pedir informações sobre seus direitos e denunciar irregularidades no descumprimento da legislação trabalhista, principalmente nas obrigações pós-contratuais.
Estranha-se que em nenhum momento, estas associações foram ouvidas pelo Sr. Ministro para a formação de sua convicção e tomada de decisão, que, como se anuncia, revogará a NT 141/2014, que pode se tornar um fato gravíssimo, que certamente terá repercussões não só no Brasil, como em todo mundo, através das redes sociais, que certamente divulgarão tal ocorrência, que colocará nosso país no rol daqueles que não preservam o direito dos trabalhadores e trabalhadoras, que descumprem com os princípios de nossa Carta Magna na falta de respeito e preservação da dignidade da pessoa humana.
Sr. Ministro, este apelo, em nome das vítimas do amianto, será repercutido em todo o mundo, pelo qual lhe rogo que não se deixe enganar por discursos fantasiosos e isentos de responsabilidade social, como é este comandado pela máquina de propaganda da indústria do amianto, e não promova um retrocesso social, que manchará sua reputação e seu futuro político.
Atenciosamente,
FERNANDA GIANNASI
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