terça-feira, 28 de agosto de 2012

TST: O DEBATE DO AMIANTO, A DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA E O VALOR SOCIAL DO TRABALHO

Ministro Augusto César defende restrições à crisotila


O ministro Augusto César Leite de Carvalho, do Tribunal Superior do Trabalho, acredita que a discussão em torno do amianto ultrapassa a questão trabalhista e se insere num contexto que abrange toda a sociedade, devido a suas dimensões ambientais, econômicas, ideológicas e de saúde. Nesta entrevista, ele discute esses diversos aspectos do tema e afirma que é preciso superar a visão "monetista" do problema.


A legislação brasileira que trata a questão do amianto é de quando?

Min. Augusto César - A ratificação da Convenção nº 162 da Organização Internacional do Trabalho (OIT) é de 1991. A nossa legislação é de 1995, com a edição da Lei nº 9055/1995, que proíbe as formas anfibólicas do amianto e ressalva a crisotila. A ressalva se justificava naquela época, mas não hoje, com a ascensão do Direito Ambiental, em que o princípio da precaução inibe qualquer atividade em que haja a suspeita de que pode causar danos. É mais do que prevenir: se há dúvida, resguarda-se a vida humana, a saúde do trabalhador.


Do ponto de vista da Justiça do Trabalho e da evolução da jurisprudência, qual é o quadro atual em relação aos problemas do amianto?


Min. Augusto César - A questão nos tem chegado por meio de ações que visam à reparação do dano moral a trabalhadores acometidos doenças como placa pleural, asbestose e mesotelioma. Há a percepção que a crisotila tem, sim, efeito cancerígeno, e a jurisprudência responsabiliza o empregador pelos efeitos nocivos da exposição ao produto. Nos EUA, os níveis de tolerância são bem menores que no Brasil. Essa audiência pública promovida pelo Supremo Tribunal Federal é uma ótima oportunidade para que o tema possa ser discutido abertamente.



Como o mundo trata o problema?

Min. Augusto César - Até 1991, diziam que apenas as formas anfibólicas do amianto é que causariam esses males. Com o tempo, essa concepção foi mudando em razão do aprofundamento dos estudos, principalmente por parte de médicos canadenses. O Canadá hoje é o maior produtor de crisotila, mas proíbe o consumo em seu próprio território. Ele exporta para os outros países o que não quer que seus cidadãos consumam.



Na União Europeia, houve uma diretiva proibindo o consumo de qualquer forma de amianto a partir de 1995. Países vizinhos a nós, como Argentina e Chile, já proibiram o amianto. O Brasil está indo em sentido contrário, apesar de ser o quarto produtor de amianto branco no mundo.



As doenças relacionadas à exposição ao amianto têm um período de latência que pode chegar a 40 anos. O que o trabalhador deve fazer ao confirmar o diagnóstico?



Min. Augusto César - No processo trabalhista, algumas vezes há dúvidas em relação à prescrição, já que a asbestose não é uma doença de diagnóstico instantâneo. Somente após a ciência inequívoca do dano é que se pode deflagrar o prazo da prescrição. É um princípio do Direito: você só tem contra si um prazo de prescrição quando se tem o direito de ação, que ocorre quando é confirmado o diagnóstico, mesmo que a exposição tenha ocorrido há mais de 20 anos. É perverso imaginar que o trabalhador, por não ter ajuizado a ação à época do rompimento do vínculo de emprego, não possa mais fazê-lo e tenha que suportar isso sem poder pedir a reparação. A partir do diagnóstico, portanto, o prazo para ajuizar a ação é de três anos. Ainda assim é muito pouco tempo, e essas noções que dizem respeito à prescrição podem ser que sejam revisadas no futuro.



Algumas entidades sindicais que defendem a continuidade da produção do amianto dizem que esses casos aconteceram quando não se tinham condições seguras de trabalho, mas que hoje, com controle adequado e acordos coletivos, a atividade é totalmente segura para o trabalhador. Este argumento é válido?



Min. Augusto César - O amianto não causa dano apenas ao trabalhador. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), são 125 milhões de trabalhadores expostos, e 105 mil continuam morrendo por ano. Então, essa proteção em grau absoluto não existe. Outros trabalhadores, não só os de minas, também estão sujeitos ao problema.



Outro argumento usado pelos defensores do amianto é a questão da geração de empregos. Qual a sua visão sobre este ponto?



Min. Augusto César - Os produtos de amianto entram no mercado com preço muito baixo, o que cria dificuldades para os concorrentes. Segundo um estudo feito em São Paulo, 150 mil trabalhadores de produtos alternativos ao amianto perderiam o emprego se a comercialização do amianto branco, hoje proibida naquele estado, voltar a ser autorizada. Existe, então, a possibilidade de trabalho seguro, que não expõe o trabalhador e a sociedade à inalação desse material cancerígeno. Há outras substâncias que concorrem com ele sem a mesma condição de preço, mas que empregam também, e esses empregos seriam sacrificados. Em última análise, o dilema é entre o desenvolvimento econômico incondicional ou o desenvolvimento econômico sustentável, que assegura proteção ambiental, segurança e saúde ao trabalhador.



As leis que proíbem o uso e a circulação de mercadorias com amianto representam um avanço?



Min. Augusto César - É elogiável a posição do Estado de São Paulo e a dos demais estados quanto a isso. Com as leis, não permitimos que se produza ou se comercialize o amianto e também não permitimos que ele circule no nosso território. Acho difícil de entender porque o princípio da livre circulação de mercadorias deva prevalecer sobre o princípio da dignidade humana.



Quais as perspectivas, do ponto de vista da legislação e da jurisprudência, no campo das garantias ao trabalhador?



Min. Augusto César - A minha visão do Direito é a da superação da fase monetista, aquela em que tudo acontece e depois tudo é reparado. Essa abordagem dá à lesão um custo monetário, transforma em dinheiro o mal que irremediavelmente está feito. Hoje, a compreensão é outra: é de prevenção, de não permitir que um determinado tipo de trabalho se realize porque ele não só vai gerar um mal no futuro, mas porque vai se preservar uma condição que afeta bens ambientais. A Constituição e as normas de direito internacional se referem a essa proteção para as gerações futuras, mas também para o trabalhador de hoje mesmo. Não se pode deixar que atividade econômica se desenvolva se ela está levando ao adoecimento e à morte. Creio que há uma mudança de concepção no tocante à concretização desses direitos.



Onde podemos observar essa mudança?



Min. Augusto César - Na noção de dignidade humana, por exemplo. As encíclicas papais da Igreja Católica concebiam que a dignidade humana era afetada quando o trabalhador era levado à estafa. Hoje, do ponto de vista filosófico e jurídico, entende-se que o principio da dignidade humana é afetado quando existe trabalho degradante. Não quer dizer apenas que o trabalhador esteja exaurido, cansado. Qualquer espécie de trabalho degradante afeta a concepção do homem como fim, e não como meio.

Município goiano revela a complexidade da questão do amianto


Até o 1939, o Brasil importava todo o amianto que consumia. Na década seguinte, foram descobertas jazidas do mineral em várias regiões do país, como Pontalina, no sul de Goiás, e São Félix, no município de Poções, na Bahia, que não existe mais devido ao esgotamento de reservas. Hoje, a única mina de amianto em exploração no país fica na cidade de Minaçu, no nordeste de Goiás. A jazida deu ao Brasil a autossuficiência no setor, e sua reserva, segundo estimativa recente, é suficiente para a produção de amianto crisotila por mais 50 anos.



A história do município se confunde com a criação da mineradora na região. Conta-se que um dos empregados de uma fazenda notou que na área havia grande quantidade de pedras esverdeadas e escamosas. O proprietário das terras resolveu avaliar o mineral e procurou um negociante de minério, que levou o fragmento para análise em um laboratório em São Paulo. O comerciante apresentou os resultados para a um gerente da S.A. Mineração de Amianto (Sama), empresa franco-brasileira dedicada à exploração de amianto crisotila, que resolveu adquirir a área. Hoje, 45 anos depois, a mineradora é uma das maiores jazidas de amianto do mundo, e fez de Minaçu um dos municípios mais ricos do Estado de Goiás.



Crisotila



A forma mais utilizada e mais comum do amianto – e a única permitida no Brasil - é a crisotila. As demais – actinolita, amosita (asbesto marrom), antofilita, crocodilita (amianto azul) e tremolita, bem como os produtos que as contenham – são vedadas pela Lei nº 9055/1995.



As características físico-químicas do amianto crisotila o tornaram matéria-prima importante para a indústria, que o utiliza em larga escala na produção de telhas, caixas-d'água, materiais plásticos, tintas etc. Entre as suas propriedades, o mineral é um excelente isolante térmico, resiste a altas temperaturas, tem grande durabilidade e flexibilidade. Estimam-se em mais de 3,5 mil as utilidades para o produto.



"A disputa econômica não é dos trabalhadores"



A ideia de acabar com a produção de amianto na região de Goiás preocupa não só os trabalhadores, que temem ficar sem os empregos, mas também a população de Minaçu. Isso porque a produção representa cerca de 40% da arrecadação do município de 35 mil habitantes.



Para o vice-presidente da Comissão Nacional do Amianto e presidente da Federação Internacional dos Trabalhadores do Amianto (Fitac), Adilson Santana, a questão tem de ser tratada pelos opositores "com mais responsabilidade". Santana não ignora que, no passado, eram poucos os cuidados das empresas em relação ao trabalho com a crisotila, mas afirma que hoje a realidade é outra, graças aos avanços no controle da exploração do asbesto e às mudanças ocorridas por força de acordos trabalhistas. "Levamos anos para conquistar ambientes saudáveis e seguros", afirma. "Agora que conseguimos querem a proibição da produção. A disputa econômica não é dos trabalhadores, é entre os empresários", reclama.



Segundo cálculos da Comissão, só em Minaçu são 3,5 mil empregos diretos e indiretos, e as 15 fábricas de fibrocimento no resto do país dão emprego a mais de 10 mil trabalhadores. Há mais de 25 anos na defesa do amianto, Adilson assegura que não há risco hoje para o trabalhador do amianto, e que nas minas o ar é puro e o ambiente seguro. "A gente não ia dar nossas vidas para ganhar a vida. Não somos um bando de suicidas."



Já a Associação Brasileira dos Expostos ao Amianto (Abrea) rebate o uso seguro do mineral, e afirma que o contato com a crisotila representa um grave problema de saúde pública para o Brasil e para o mundo. Segundo dados da associação, morrem por ano, no mundo, cerca de 100 mil pessoas vítimas do amianto.



Entre os problemas mais comuns está a asbestose, doença pulmonar causada pela aspiração de pó de amianto. Quando chega aos pulmões, a fibra de crisotila causa inflamação dos tecidos, que leva à fibrose, comprometendo seriamente as funções do órgão. Outra doença praticamente exclusiva àqueles em exposição ao amianto é o mesotelioma, tipo de câncer da pleura que pode levar à morte em apenas nove meses.



Segundo informações da Abrea, houve nos últimos dez anos 2,4 mil casos de mesotelioma registrados no Brasil. Ainda de acordo com a entidade, os acordos extrajudiciais realizados entre empresas e trabalhadores doentes mascaram os dados perante as instituições de saúde e previdência.



Magnatas na cadeia


O caso mais rumoroso envolvendo a questão do amianto se refere à condenação, pela Justiça italiana, dos fundadores e proprietários do grupo Eternit – o empresário suíço Stephan Schmidheiny, de 65 anos, e do barão belga Louis de Cartier de Marchienne, de 92 anos, - a 16 anos de prisão por exporem funcionários e moradores de uma região italiana ao amianto. Segundo a Justiça de Turim, eles seriam culpados pela morte de mais de três mil pessoas na região de Casale Monferrato, na Itália, por doenças causadas pelo produto. Para os juízes italianos, os empresários sabiam do poder cancerígeno da fibra, mas não alertaram a população de nada.



No Brasil, sete estados já proibiram o uso do amianto: Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul, Pernambuco, São Paulo, Mato Grosso, Espírito Santo, Pará e Mato Grosso do Sul. Todas as leis estaduais de banimento foram objeto de questionamento no Supremo Tribunal Federal.



Briga judicial



A complexidade do tema pode ser também percebida na decisão do ministro Marco Aurélio, do STF, de convocar audiência pública para discutir o tema. Ele é o relator da Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) 3937, na qual a Confederação Nacional dos Trabalhadores da Indústria (CNTI) ataca Lei Estadual 12684/2007, de São Paulo, que proíbe o uso, naquele estado, de produtos, materiais ou artefatos que contenham quaisquer tipos de amianto ou asbesto ou outros minerais que tenham fibra de amianto na sua composição. O objetivo, segundo o ministro, é analisar, "do ponto de vista científico, a possibilidade de uso seguro" da crisotila e os riscos à saúde pública que o material pode trazer. Pretende-se também verificar se as fibras alternativas ao amianto crisotila são viáveis, considerando-se os eventuais prejuízos à higidez física e mental da coletividade, além dos impactos econômicos decorrentes das duas opções.



A audiência pública teve início na sexta-feira (24), com a participação de 17 expositores, e prossegue na próxima semana (31). Ao todo, serão 35 expositores, cada um dispondo de 20 minutos para apresentar seus pontos de vista e responder às dúvidas dos ministros do STF.



As exposições e pesquisas servirão de subsídio também para quatro outras ações da CNTI contra leis estaduais semelhantes: ADI 3355, contra lei do Rio de Janeiro, de relatoria do ministro Joaquim Barbosa; ADI 3356, de Pernambuco, na qual o relator, ministro Eros Grau, hoje aposentado, já votou pela procedência, e aguarda retorno de vista do ministro Barbosa; ADI 3357, do Rio Grande do Sul, conclusa ao ministro Ayres Britto; e ADI 3406, também do Rio de Janeiro, que tem como relatora a ministra Rosa Weber. A ADI 2396, do Mato Grosso do Sul, da relatoria da ministra Ellen Gracie (hoje aposentada), foi julgada parcialmente procedente em 2003.



Em todas as ADIs contra a proibição de amianto nos estados, a CNTI alega que as leis estaduais usurpam a competência legislativa da União e entram em confronto com a Lei Federal nº 9055/1995, que permite o uso controlado do amianto no País. Essa permissão é o ponto central da mais aguardada das ADIs em tramitação no STF: a 4066, ajuizada pela Associação Nacional dos Procuradores do Trabalho (ANPT) e pela Associação Nacional dos Magistrados do Trabalho (Anamatra).



As associações pedem a revogação do artigo 2º da Lei nº 9055/1995, que autoriza a extração, comercialização e utilização da crisotila, e afirmam que pesquisas científicas em vários países já comprovaram os malefícios, principalmente o câncer, causado pelo amianto em suas diversas formas, inclusive o branco. O relator é o ministro Ayres Britto, que, até o momento, já deferiu a participação de dez representantes da sociedade civil (associações, sindicatos, entes federativos) na condição de amicus curiae – figura admitida no processo para opinar sobre temas específicos dos quais tenha conhecimento, passando a figurar como parte interessada na ação e a ter direito a se manifestar na tribuna do Plenário. Entre os amici curiae já admitidos estão as duas principais forças envolvidas no tema, a Abrea e o Instituto Brasileiro de Crisotila (IBC).



O processo já tem parecer favorável (nº 6016 - PGR – RG) do procurador-geral da República, Roberto Gurgel, pela inconstitucionalidade da Lei Federal 9.055/95, que permite a exploração, a utilização industrial e comercial do amianto. Ele ressalta que, segundo documentos produzidos por órgãos nacionais e internacionais, não há índice de exposição segura ao amianto que, em todas as suas formas, inclusive a crisotila, "provoca câncer e outras doenças, todas elas progressivas e que levam à morte".



"Permitir as várias modalidades de uso da crisotila é consentir com danos já antecipados, o que está na contramão da disciplina constitucional dos princípios da precaução e da prevenção em saúde e meio ambiente", destacou.

Trabalhadores estão no centro das discussões sobre banimento do amianto


O Supremo Tribunal Federal começou a discutir ontem (24), em audiência pública, os perigos envolvidos na extração, industrialização e comercialização do amianto devido aos riscos ambientais e à saúde. Embora o problema atinja toda a sociedade, o foco de boa parte das discussões está na saúde do trabalhador, e se revela em casos concretos que desembocam na Justiça do Trabalho em busca de reparação. A atuação do Judiciário na garantia dos direitos desses trabalhadores vem acompanhando a evolução do conhecimento e da legislação sobre o tema, somada à conscientização em relação a princípios constitucionais como a dignidade da pessoa humana e aos direitos sociais do trabalhador.



Foi no início do século XX que pesquisadores começaram a observar um número significativo de mortes precoces e de problemas pulmonares em regiões de extração de amianto. O primeiro relato de morte de trabalhador por exposição ao mineral é de 1907, feito pelo médico inglês H. Montagne Murray. Ele detectou a relação causal entre o desenvolvimento de fibrose pulmonar e a manipulação de fios condutores de energia. Já o primeiro diagnóstico de asbestose data de 1924. Na década de 30, surgiram, também na Inglaterra, as primeiras leis que definiam a asbestose como doença relacionada ao trabalho.



Em 1986, a Organização Internacional do Trabalho aprovou a Convenção nº 162, que se propõe a fixar normas para a utilização segura do amianto. Aprovada na 72ª reunião da Conferência Internacional do Trabalho daquele ano, o documento entrou em vigor no plano internacional em 1989. Um dos princípios gerais era o de que a legislação nacional dos países que a ratificassem deveria prescrever medidas para prevenir e controlar os riscos para a saúde oriundos da exposição profissional ao amianto e proteger os trabalhadores desses perigos. Previa, ainda, que essa legislação fosse submetida a revisão periódica, com base na evolução técnica e científica sobre o tema.



Normas regulamentadoras



No Brasil, as primeiras regras de proteção datam da década de 70. A Lei 6.514/1977 alterou os artigos da CLT relativos a segurança e medicina do trabalho (Capítulo V do Título II) para introduzir regras mais rigorosas voltadas à proteção dos trabalhadores, entre elas a obrigatoriedade do fornecimento, pelo empregador, de equipamentos de proteção individual (EPI). No ano seguinte, a Portaria 3.214/1978 do Ministério do Trabalho e Emprego fixou as Normas Regulamentadoras (NR) previstas na nova redação da CLT.



A introdução específica do amianto entre as normas de proteção ocorreu, de fato, a partir de 1991, com a ratificação da Convenção 162 da OIT pelo Decreto 126/1991 e pela inclusão, na Norma Regulamentadora nº 15 (NR 15) do MTE, do Anexo 12, que trata dos limites de tolerância para poeiras minerais em atividades nas quais os trabalhadores estão expostos ao amianto.



Insalubridade



A partir daí, começaram a surgir reclamações trabalhistas voltadas para o direito à insalubridade – primeiro passo no reconhecimento da necessidade de proteção mais efetiva dos trabalhadores expostos ao agente nocivo. Um processo ajuizado em 1994 na 1ª Vara do Trabalho de São José dos Pinhais (PR) chegou ao TST em 1997 (RR-385.106/97.6). Nele, o Sindicato dos Trabalhadores na Indústria de Ladrilhos Hidráulicos, Produtos de Cimento e Artefatos de Cimento Armado de Curitiba, representando os trabalhadores da Multilajes Pré-Moldados de Concreto Ltda., pedia o reconhecimento do adicional de insalubridade.



O Tribunal Regional do Trabalho da 9ª Região (PR) deferiu o pedido com o entendimento de que, embora fosse obedecido o limite de tolerância previsto em lei, o manuseio do amianto, por si só, gera direito ao adicional. "Entre a tolerância da lei e o laudo pericial, deve prevalecer a opinião médica, até porque também é amparada na justiça e, pois, na lei em última análise", afirmou o acórdão regional. No laudo, o perito defendia que as atividades que envolvem o manuseio do amianto deveriam "ser banidas do território nacional progressivamente, como já ocorreu em muitos países desenvolvidos". Ao examinar recurso da Multilajes, o TST manteve o entendimento.



Dano moral



A Constituição da República de 1988 e, sobretudo, a Emenda Constitucional 45/2004 deram à matéria uma nova abordagem, ao atribuir à Justiça do Trabalho a competência para examinar casos de dano moral decorrente da relação de trabalho – entre eles os resultantes de acidentes. Ao mesmo tempo, equiparou-se a doença profissional ao acidente de trabalho. Abriu-se, então, um novo caminho para reparação aos trabalhadores. São numerosos, hoje, os casos de indenização a empregados – e, em muitos casos, aos seus herdeiros – vítimas das doenças decorrentes da exposição prolongada ao amianto.



"O pó impregnava todo o ambiente"



É o caso, entre tantos outros, de Nivaldo, que trabalhou, na década de 80, na Avibrás Indústria Aeroespacial S/A como operador de produção, montando componentes para foguetes e mísseis – feitos com com amianto. Em 2007, foi diagnosticado com mesotelioma, tipo agressivo de câncer de pleura comprovadamente ligado à exposição e à inalação de amianto. O caso de Nivaldo foi, segundo a advogada, o segundo diagnosticado na Avibrás.



Na reclamação trabalhista ajuizada na Vara do Trabalho de Jacareí (SP), o operário contou que o pó da usinagem do amianto "era tão fino e tão excessivo" que se infiltrava em todo o ambiente, impregnando os uniformes, corpos e vias respiratórias dos trabalhadores. Em abril de 2008, antes da prolação da sentença, a família noticiou a morte de Nivaldo, e seus herdeiros assumiram o pólo ativo do processo, que resultou numa condenação de R$ 200 mil por danos morais e R$ 100 mil por danos materiais.



A Avibrás interpôs, sucessivamente, recurso ordinário e embargos de declaração rejeitados pelo Tribunal Regional do Trabalho da 15ª Região (Campinas/SP), que também negou seguimento ao recurso de revista. Por meio de agravo de instrumento (AIRR-73400-92.2007.5.15.0023), tentou trazer a discussão para o TST, a fim de questionar o valor da indenização, mas a pretensão foi frustrada pela Quarta Turma, que negou provimento ao agravo.



Princípio da precaução



Caso semelhante foi examinado pela Sexta Turma, desta vez envolvendo a Saint-Gobain do Brasil Produtos Industriais e Para Construção Ltda. e a família de Ary, vítima, em 2003, de mesotelioma por contato prolongado com o amianto. A Saint-Gobain (antiga Brasilit), condenada a pagar indenização post mortem aos herdeiros, recorreu ao TST (RR-40500-98.2006.5.04.0281) argumentando não haver comprovação de culpa ou dolo que justificasse a condenação.



Os depoimentos retrataram que o empregado, cuja função era a de comprador, circulava com frequência dentro da fábrica, para verificar a quantidade de cimento e amianto para reposição, e sua sala ficava a 50m do depósito de amianto. Uma das testemunhas afirmou que, no período em que trabalhou na Saint-Gobain, o único EPI que recebeu "foi um par de botinas".



O relator do recurso de revista da empresa, ministro Aloysio Corrêa da Veiga, manteve a condenação. "A omissão da empresa no cuidado com o meio ambiente seguro de seus empregados acarreta o reconhecimento da sua responsabilidade objetiva pelos eventos danosos que, no caso, não apenas eram presumíveis, mas também evitáveis", afirmou.



O relator ressaltou que as preocupações atuais da sociedade quanto às questões ligadas a meio ambiente, condições de trabalho, responsabilidade social, valores éticos e morais e dignidade da pessoa humana "exigem do empregador estrita observância do princípio da precaução". Trata-se, como explicou, de uma "obrigação de resultado": o empregador tem o dever de antecipar e avaliar os riscos da atividade empresarial e a efetivação das medidas de precaução necessárias. "No Brasil, o amianto é permitido, embora não existam limites de tolerância suficientemente seguros para garantir a vida e a saúde daqueles que estão em contato diário com ele", afirmou.



"Ninguém usava máscara"



Em maio deste ano, a Primeira Turma do TST examinou o caso de Enoque Pinheiro de Oliveira (AIRR-127500-11.2007.5.02.0006). Entre 1970 e 1977, ele trabalhou na fábrica da Eternit S/A – a maior empresa do mundo no ramo de exploração industrial do amianto – em Osasco (SP), como servente, ajudante de desintegração de amianto, ajudante de marcenaria e meio oficial eletricista. Como servente, Enoque varria e limpava a fábrica e carregava restos de massa de cimento-amianto. Como ajudante de desintegração, colocava o amianto sólido na máquina de moagem e depois armazenava o produto desintegrado em caixas, em meio a alta concentração do pó.



Em 1982, foi aposentado por invalidez. Em 1997, alertado por colegas sobre a nocividade do amianto, submeteu-se a diversos exames que confirmaram o diagnóstico de asbestose. No ano seguinte, ajuizou reclamação trabalhista buscando a responsabilização da Eternit pelas despesas com tratamento, pensão vitalícia e indenização por dano moral. A sentença da 6ª Vara do Trabalho de São Paulo deferiu os pedidos, fixando a indenização em R$ 20 mil.



Os laudos e depoimentos constataram que os operários aspiravam muita poeira no setor, e só passaram a receber máscaras a partir de 1977/1978, quando a legislação passou a exigir o fornecimento de EPIs. "Era uma máscara comum, e quando estava vencida iam até o almoxarifado para substituí-la, mas nem sempre tinham outra para reposição", afirmou uma das testemunhas. "Era uma máscara pequena e que não prestava", afirmou outra. Um terceiro operário, que trabalhou por 20 anos em todos os setores da fábrica, afirmou que "ninguém usava máscara", que os exaustores "não funcionavam" e que, "quando estourava um saco de amianto, ficava tudo empoeirado".



A Eternit vem recorrendo desde então, sem sucesso. Sustenta que não há nos autos "qualquer indício" de que Enoque "esteja sofrendo de qualquer constrangimento, dor, angústia, depressão ou tendo problemas psicológicos em consequência de sua suposta moléstia ocupacional". Em maio, a Primeira Turma negou provimento a agravo de instrumento e, um mês depois, a embargos de declaração. Ainda inconformada, a empresa agora tenta, por meio de recurso extraordinário, levar o caso ao Supremo Tribunal Federal, alegando "a patente inconstitucionalidade do entendimento adotado e corroborado" pela Justiça do Trabalho.









segunda-feira, 20 de agosto de 2012

CONFIBRA: REVOGADA LIMINAR DE EMPRESA DE FIBROCIMENTO QUE AINDA OPERAVA NO ESTADO DE SÃO PAULO COM O BANIDO AMIANTO

VARA DO TRABALHO DE HORTOLÂNDIA

PROCESSO 0143300-95.2009.5.15.0152

Justifica-se a devolução dos autos em Secretaria nesta data em razão do gozo de férias regulamentares durante o período de 16/07/2002 a 14/08/2012.

Embora relevantes os argumentos trazidos pela autora, constituindo-se a audiência pública em instrumento de participação democrática, vigora dentre os princípios que norteiam a atuação jurisdicional, o da celeridade, não havendo notícias de que foi alterada a decisão preferida por este Tribunal na ADIN na qual se questiona (in)constitucionalidade da Lei Estadual 12.684/07, ou de que há designação de data para o julgamento do mérito da ação, não se constituindo, deste modo, motivo para o deferimento do pedido de sobrestamento do feito, o qual se encontra devidamente instruído e apto para julgamento.

Profere-se, portanto, a seguinte

SENTENÇA

CONFIBRA INDUSTRIA E COMÉRCIO LTDA qualificada nos autos ajuizou ação declaratória de nulidade de ato administrativo em face do MUNICÍPIO DE HORTOLÂNDIA visando anular auto de imposição de penalidade lavrado pela fiscalização da vigilância sanitária da municipalidade de Hortolândia que a impediu de utilizar em seu processo industrial o amianto, paralisando com a medida sua produção. Alegou que a manutenção da medida trará impacto social consistente no desemprego de centenas de trabalhadores e apontou a segurança do processo produtivo, asseverando que o processo de produção é totalmente automatizado, com algumas etapas da produção robotizadas e segundo medições realizadas a concentração de poeira em suspensão em toda a fábrica encontra-se 20 vezes abaixo dos limites legais toleráveis. Invocou a legislação federal em seu favor, alegou a incompetência da vigilância sanitária municipal para a inspeção do trabalho. Postulou a antecipação dos efeitos da tutela para a continuidade do processo produtivo, mencionando o projeto de Lei 917/2009. Juntou procuração e documentos, atribuindo à causa o importe de R$ 20.000,00.

Antecipados os efeitos da tutela (fls. 288/290) anulando-se o auto de infração.

A autora noticiou que a fiscalização do trabalho voltou a interditar o processo produtivo da empresa, desrespeitando a decisão antecipatória da tutela. (fls. 299/724).

Decidiu-se a fls. 725/728 pela manutenção da liminar pelo prazo de 90 dias e inclusão da UNIÃO no pólo passivo.

Manifestação do Ministério Público do Trabalho a fls. 735/746.

A fls. 760/761 a empresa SAMA S/A – MINERAÇÕES ASSOCIADAS, requereu a participação na lide como assistente litisconsorcial da autora e o mesmo pedido foi feito pela COMISSÃO NACIONAL DOS TRABALHADORES DO AMIANTO e SINDICATO DOS TRABALHADORES NAS INDUSTRIAS DA CONSTRUÇÃO, MOBILIÁRIO, CERAMISTAS, LADRILHOS, HIDRÁULICOS E PRODUTOS DE CIMENTO DE CAPIVARI E REGIÃO ( fls. 766/860).

A autora requereu a prorrogação do prazo de vigência da tutela antecipada a fls. 862/982, o que restou indeferido a fls. 988.

Inconciliados em audiência (fls. 987/988), indeferindo-se o pedido de SAMA S/A COMISSÃO NACIONAL DOS TRABALHADORES DO AMIANTO e SINDICATO DOS TRABALHADORES NAS INDUSTRIAS DA CONSTRUÇÃO, MOBILIÁRIO, CERAMISTAS, LADRILHOS, HIDRÁULICOS E PRODUTOS DE CIMENTO DE CAPIVARI E REGIÃO de intervenção no feito. À ocasião, manifestou-se o Ministério Público do Trabalho, justificando sua atuação administrativa.

A autora juntou novos documentos as fls. 1001/1023 para embasar seu pedido de prorrogação da tutela, o que restou deferido a fl. 1023, com a concordância do Ministério Público do Trabalho (fls. 1039/1040).

Em audiência remanesceram inconciliados designando-se inspeção judicial (fl. 1042) e juntou-se documento noticiando o deferimento de antecipação da tutela para sobrestar a eficácia parcial da Lei 12.684/2007.

Em contestação o Município de Hortolândia (fls. 1052/1096) alegou preliminarmente a incompetência da Justiça do Trabalho para o julgamento do litígio e no mérito defendeu a competência da vigilância sanitária municipal para atuar nas questões relacionadas à saúde dos trabalhadores, apontando a vigência da Lei Estadual 12.684/2007.

Em contestação (fls. 1097/1162) a União defendeu a regularidade formal e material do laudo de interdição, realizado em ação conjunta entre a municipalidade e auditor fiscal do trabalho. Requereu a improcedência do pedido e a condenação da autora em honorários advocatícios.

A autora requereu novamente a prorrogação do prazo de vigência da liminar a fls. 1164/1192 e apontou a parcialidade da auditora fiscal do trabalho, conforme decisão preferida pela 24ª Vara da Fazenda Federal em São Paulo.

Sobrestou-se a inspeção judicial (fl. 1201), manifestando-se o Ministério Público do Trabalho a fls. 1207/1244 e a União a fls. 1241/1256.

Réplica a fls. 1257/1260, 1261/1330.

Peticionou a autora em conjunto com o Município de Hortolândia requerendo o sobrestamento do feito por 120 dias (fls. 1358/1381), manifestando-se o Ministério Público do Trabalho a fls. 1385/1393.A fls. 1400/1401 requereu o Município de Hortolândia a revogação da liminar.

Juntada de documentos pela autora a fls. 1402/1612 e fls. 1629/1657.

Decidiu-se pelo encerramento da instrução processual.

Juntada pelo Ministério Público do Trabalho de documentos a fls. 1659/1665 e pela autora a fls. 1680/1686.

Apresentaram as partes razões finais às fls. 1691/1717 e fls. 1719/1723.

A autora requereu o adiamento do julgamento em razão da designação de audiência pública perante o STF, o que restou indeferido, conforme decisão supra.

Remanesceram inconciliados.

Relatados.

DECIDE-SE E FUNDAMENTA-SE:

PRELIMINARMENTE

COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO

Nos explícitos termos do art. 114, inciso VII da Constituição Federal de 88, “compete a Justiça do Trabalho processar e julgar:VII – as ações relativas às penalidades administrativas impostas aos empregadores pelos órgãos de fiscalização das relações de trabalho”.

Postulando a autora exatamente a declaração de nulidade de ato de infração de penalidade lavrado pela fiscalização da vigilância sanitária da municipalidade de Hortolândia, pautando-se em suposto risco ao meio ambiente do trabalho, a competência é desta especializada, segundo norma supra citada.

Rejeita-se a preliminar.

MÉRITO

Pretende a autora a nulidade de penalidade, sob a alegação de que o auto de infração padece de vícios formais e materiais, não possuindo a vigilância sanitária da municipalidade de Hortolândia competência para a fiscalização do meio ambiente do trabalho e padece a Lei 12.684/2007 de vício de inconstitucionalidade, usurpando o Estado competência privativa da União, contrariando o disposto em Lei Federal.

Acrescentou ainda que toma todas as cautelas necessárias para a fabricação dos produtos que comercializa, apontando as medições concentração de fibras de amianto muito abaixo dos limites estabelecidos pela legislação específica. Por fim, acrescenta que o abrupto encerramento de suas atividades implicará no desemprego de centenas de trabalhadores, além de trazer grande impacto social.

A Constituição Federal em seu artigo 225 traz como postulado do Estado Democrático que “todos tem direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações”.

Nas lições de Leda Pereira Mota e Celso Spitzcovsky “...em boa hora a Constituição trouxe para o seu interior estas regras que começaram por privilegiar o meio ambiente equilibrado como um direito de todos, uma vertente fundamental para assegurar a qualidade de vida (art. 225), sendo inclusive considerado como um típico direito de terceira geração, por nossa Suprema Corte (RE n. 134297-8/SP, Rel.Min. Celso de Mello, 1ª T. decisão 13/6/95, DJ 1 de 22-9-1995, p. 30597)” (Curso de Direito Constitucional. 4ª ed. – São Paulo: Juarez de Oliveira, pg. 267).A lei 6.938/81 (política nacional de meio ambiente) define em seu artigo 3º, inciso I, meio ambiente como “conjunto de condições, leis, influencias e interações de ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas”.

Leciona Raimundo Simão de Melo que o meio ambiente do trabalho é “o local onde as pessoas desempenham suas atividades laborais, sejam remuneradas ou não, cujo equilíbrio está baseada na salubridade e na ausência de agentes que comprometam a incolumidade físico-psíquica dos trabalhadores, independentemente de condição que ostentem (homens ou mulheres, maiores ou menores de idade, celetistas, servidores públicos, autônomos, etc)”. (Direito Ambiental do Trabalhado e a saúde do Trabalhador. 3ª ed. – São Paulo : Ltr, 2008. p.25).

Nas lições de Sandro Nahmias Melo, o meio ambiente do trabalho está inserido no ambiente em geral, de modo que não há como se falar em qualidade de vida se não houver qualidade de trabalho, nem se pode atingir o meio ambiente equilibrado e sustentável, ignorando-se o aspecto do meio ambiente do trabalho (Meio ambiente do Trabalho: direito fundamental. São Paulo: LTR).

O meio ambiente do trabalho adequado e seguro é um direito fundamental do trabalhador (art 7º, inciso XXII da Constituição Federal), compreendendo ações do Estado que visem tutelá-lo, preservando a saúde dos trabalhadores.

A Constituição Federal confere ao Sistema Único de Saúde a tarefa de”colaborar na proteção do meio ambiente, nela compreendido o do trabalho “ (art. 200, VIII).

Em um primeiro momento, poder-se-ia entender por possível conflito com o disposto no comando delineado no artigo 21, XXIV que confere à União a prerrogativa de “...organizar, manter e executar a inspeção do trabalho...”, ou seja, a competência exclusiva material, entretanto, como leciona J. J. Gomes Canotilho que “...na resolução dos problemas jurídico-constitucionais deve dar-se primazia aos critérios ou pontos de vista que favoreçam a integração política e social e o reforço da unidade política...para conduzir a soluções pluralisticamente integradoras...”(Direito Constitucional e Teoria da Constituição. 6ª ed. – Coimbra: Almedina, pg. 1210), de forma que toda interpretação deve conduzir a um equilíbrio das normas constitucionais, e consequentemente, ambos os preceitos convivem harmonicamente.

A lei 8080/1990 regulamenta a atribuição prevista no art. 200 da Constituição, disciplinando que :

Art. 2º A saúde é um direito fundamental do ser humano, devendo o Estado prover as condições indispensáveis ao seu pleno exercício.

§ 1º O dever do Estado de garantir a saúde consiste na formulação e execução de políticas econômicas e sociais que visem à redução de riscos de doenças e de outros agravos e no estabelecimento de condições que assegurem acesso universal e igualitário às ações e aos serviços para a sua promoção, proteção e recuperação.

Ao delimitar, no artigo 6º, o que se entende por sistema único de saúde estabelece que “estão incluídas ainda no campo de atuação do

Sistema Único de Saúde (SUS):

I - a execução de ações:

a) de vigilância sanitária;

b) de vigilância epidemiológica;

c) de saúde do trabalhador ..(sem grifos no original)

E a seguir define o a vigilância sanitária e seu campo de atuação:

§ 1º Entende-se por vigilância sanitária um conjunto de ações capaz de eliminar, diminuir ou prevenir riscos à saúde e de intervir nos problemas sanitários decorrentes do meio ambiente, da produção e circulação de bens e da prestação de serviços de interesse da saúde, abrangendo:

I - o controle de bens de consumo que, direta ou indiretamente, se relacionem com a saúde, compreendidas todas as etapas e processos, da produção ao consumo; e

II - o controle da prestação de serviços que se relacionam direta ou indiretamente com a saúde.

§ 2º Entende-se por vigilância epidemiológica um conjunto de ações que proporcionam o conhecimento, a detecção ou prevenção de qualquer mudança nos fatores determinantes e condicionantes de saúde individual ou coletiva, com a finalidade de recomendar e adotar as medidas de prevenção e controle das doenças ou agravos.

§ 3º Entende-se por saúde do trabalhador, para fins desta lei, um conjunto de atividades que se destina, através das ações de vigilância epidemiológica e vigilância sanitária, à promoção e proteção da saúde dos trabalhadores, assim como visa à recuperação e reabilitação da saúde dos trabalhadores submetidos aos riscos e agravos advindos das condições de trabalho... (sem grifos no original).

Portanto, o controle sanitário engloba o meio ambiente do trabalho sadio, indissociável, como dito, do meio ambiente natural, de forma, que há que se reconhecer a competência da vigilância sanitária municipal para a sua tutela e consequente lavratura do auto de infração questionado pela autora, rejeitando-se o vício arguido pela autora.

Reconhecida a competência da vigilância sanitária municipal para a fiscalização do meio ambiente do trabalho, inócuas as alegações da reclamada com relação aos vícios apontados com relação ao 2º auto lavrado, este pela Auditora Fiscal do Trabalho, e sua alegada parcialidade, conforme decisão preferida pela 24ª Vara da Fazenda Federal em São Paulo.

Segundo decidido a fl. 731, ao contrário do ponderado pela peticionária, entende o Juízo que a Lei Estadual n.o 12.684/07 encontra-se em plena vigência, proibindo o “uso, no Estado de São Paulo, de produtos, materiais ou artefatos que contenham quaisquer tipos de amianto ou asbesto” (artigo 1º).

Na ADIn na qual se questiona a (in)constitucionalidade da mencionada lei os Ministros do Supremo Tribunal Federal ao apreciarem a decisão monocrática concessiva da Liminar, não a confirmaram (por 7 votos a favor e 3 contra). Na ocasião, se posicionaram que o Estado possui competência para legislar sobre questões de saúde (art. 23, II e 24, XII, da CF) direito fundamental que é, e que a erradicação do amianto atende à Convenção 162 da OIT.

Nesse sentido, estabelece o artigo 23 da Constituição Federal:“É competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios:

......

II - cuidar da saúde e da assistência pública, da proteção e garantia das pessoas portadoras de deficiência;

...VI – proteger o meio ambiente e combater a poluição em qualquer uma de suas formas” (sem grifos no original).

Não há hierarquia ou conflito entre as normas, conforme ventilado pela autora dispondo os artigos 23 e 24 da Constituição Federal, competência concorrente da União, estados e Municípios para legislar sobre questões versando à melhoria das condições de saúde e meio ambiente, sendo certo ainda, que em se tratando de direitos fundamentais, deve-se buscar-se amáxima efetividade do texto constitucional.

Leciona o Prof. Paulo Bonavides “...os direitos fundamentais, em rigor, não se interpretam; concretizam-se. A metodologia clássica da Velha Hermenêutica de Savigny, de ordinária aplicada à lei e ao Direito Privado, quando empregada para interpretar direitos fundamentais, raramente alcança decifrar-lhes o sentido. Os métodos tradicionais, a saber, gramatical, lógico, sistemático e histórico, são de certo modo rebeldes a valores, neutros em sua aplicação, e por isso mesmo impotentes e inadequados para interpretar direitos fundamentais...” (Curso de Direito Constitucional. 13ª ed. São Paulo: Malheiros, pg.592).

Conforme já ponderado, por certo a convivência de dois diplomas legais categoricamente excludentes em uma Federação não se mostra salutar para o processo democrático, gerando situações de iniquidade, porém, não constitui mecanismo para o descumprimento da Lei Estadual pela autora.

Em realidade, a Lei 12.684/07 apresenta um avanço por trazer melhores condições de trabalho, erradicando o amianto dos processos produtivos na medida em que, até a presente data não há estudos conclusivos de que há níveis seguros para a utilização do amianto.

Nesse sentido, recentemente o Ministério da Saúde, através do Instituto Nacional de Câncer Jose Alencar Gomes da Silva (INCA) lançou obra estabelecendo as Diretrizes para a vigilância do câncer relacionado ao trabalho:

“No que tange à exposição ocupacional, a legislação específica do MTE proíbe somente o uso de quatro substância cancerígenas: 4-aminodifenil, benzidina, beta-naftalamina e 4-nitrodifenil. Pelo menos outros 15 agentes reconhecidamente cancerígenos, como o benzeno, o amianto e a sílica estão entre os que possuem exposições toleradas. A concepção de “limites de tolerância”, adotada para outras substâncias, entra em conflito com o atual conhecimento científico sobre carcinogênese, que não reconhece limites seguros para a exposição do trabalhador a quaisquer cancerígenos (Shaham; Ribak, 1992; Gustavsson et al. 1998).

..................

Para determinar se (ou em que extensão) trabalhadores podem sofrer danos em consequência da exposição a agentes tóxicos, considera-se limiar de dose abaixo da qual a maioria dos trabalhadores expostos não ficaria doente. No entanto, os cientistas divergem sobre qual seria a exposição necessária a um cancerígeno para que o câncer se desenvolva. Alguns ponderam que qualquer exposição se traduz em risco em potencial para o desenvolvimento de um tumor, isto é, que não existe limiar de dose para agentes cancerígenos genotóxicos, enquanto outros avaliam que o potencial de cada agente está relacionado ao seu mecanismo de ação carcinogênica. Portanto, como não se tem completo conhecimento sobre aação das substâncias cancerígenas, não é aceitável a adoção de limites de exposição...”

(abho.org.br/dmdocuments2012/diretrizes_para_a_vigilancia_do_cancer_relacionado_ao_trabalho.pdf – acessado em 15/08/2012, sem grifo no original).

A portaria 1339/99 e o decreto 3048/99 (regulamento da previdência social) de aplicação ao presente caso por força do artigo 8º parágrafo único da CLT, arrolam dentre os agentes patogênicos causadores de doenças profissionais o amianto, reforçando o potencial carcinogênico da substância.

Portanto, o controle rigoroso do processo produtivo não garante efetiva proteção aos trabalhadores e muito menos, desonera a autora do cumprimento da Lei estadual.

Consoante decisão de fl. 731, a alegação da peticionária de que não há materiais substitutivos também não prospera. Há materiais, porém, com custo mais alto e que exigem adaptação do parque fabril. Porém, há parâmetro para se comparar eventual aumento de custo e a tutela da saúde do trabalhador, além da saúde pública e melhorias do meio ambiente?

Por certo, o Juízo não se mostra indiferente ao risco de desemprego de centenas de trabalhadores, porém, a saúde da coletividade e desses próprios trabalhadores é um bem incomensurável se comparado ao risco de desemprego.

Além disso, a autora contou com tempo suficiente para tentar se adequar a nova realidade vivida no Estado de São Paulo, porém, desde a edição da Lei combatida não alterou seu processo produtivo e também não o fez após a atuação da fiscalização ou no prazo concedido pelo Juízo. Em realidade, até a presente data, a autora busca de todas as formas transferir ao Estado (Legislador e Juiz) a culpabilidade por sua própria omissão, agarrando-se em vícios formais e materiais do ato combatido, estes,há que se reconhecer a legalidade do auto infração, revogando-se as tutelas anteriormente concedidas consistentes na liberação das atividades que envolvam fabricação de produtos com amianto, estabelecendo-se a penalidade imposta pela vigilância sanitária do Município de Hortolândia.

HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS

Ressalvando o entendimento de que no processo trabalhista, independentemente da assistência sindical, há cabimento de honorários advocatícios, acolhe-se o entendimento sumulado na Justiça do Trabalho (súmula 219 do C. TST), indeferindo-se o pedido formulado pela União.

DISPOSITIVO:

Ante o exposto, julgo IMPROCEDENTES os pedidos formulados por CONFIBRA INDUSTRIA E COMÉRCIO LTDA em face de MUNICÍPIO DE HORTOLÂNDIA E UNIÃO, revogando-se as tutelas concedidas a fls. 288/290 e 725/728.

Arbitra-se a condenação o valor de R$ 20.000,00 com custas pela autora no importe de R$ 400,00.

Intimem-se.

Nada mais.

Hortolândia, 15 de agosto de 2012.

Fernanda Cristina de Moraes Fonseca

Juíza do Trabalho Substituta



domingo, 19 de agosto de 2012

Justiça manda Eternit pagar indenização de R$ 300 mil à família de vítima de mesotelioma de pleura

PODER JUDICIÁRIO FEDERAL


Justiça do Trabalho - 2ª Região



Número Único: 02500003520085020074 (02500200807402007)

Comarca: São Paulo Vara: 74ª

Data de Inclusão: 10/08/2012 Hora de Inclusão: 18:32:30



Aos treze dias do mês de agosto de 2012, às 17h00min horas, na sala de audiência desta Vara, sob a presidência do Meritíssimo Juiz do Trabalho Substituto André Eduardo Dorster Araujo, foram apregoadas as partes: ESPÓLIO DE ALDO VICENTIN, reclamante, e ETERNIT S.A., reclamada. Ausentes as partes.

Prejudicada a renovação da proposta de conciliação.

Submetido o processo à apreciação, foi proferida a seguinte



S E N T E N Ç A



Vistos, etc., os autos da presente reclamação trabalhista movida por ESPÓLIO DE ALDO VICENTIN, em face de ETERNIT S.A., através da qual postulou o reclamante os títulos elencados às fls. 42, dando à causa o valor de R$ 30.000,00. Juntou documentos.

Em audiência compareceram as partes (fls. 141), sendo deferida a juntada de defesa escrita (fls. 143/225).

Dispensado depoimento pessoal do reclamante. Dispensado depoimento pessoal da reclamada.

Ouvidas testemunhas.

Sem mais provas, foi encerrada a instrução processual.

As propostas conciliatórias restaram prejudicadas.

Razões finais remissivas.

É o relatório.



D E C I D O:



Comissão de conciliação prévia. Rejeito a preliminar. A exegese do art. 625-D da CLT deve ser no sentido de que o legislador apenas colocou à disposição das partes um modo de conciliação extrajudicial, sem qualquer penalidade para as partes envolvidas.

Não há se falar em pressuposto processual ou condição da ação, visto que a Constituição Federal de 1988

assegura o amplo acesso ao Poder Judiciário, sendo certo que o Constituinte, quando quis afastar ou limitar tal acesso, o fez expressamente.

Nesse sentido, aliás, a Súmula nº 2 do E. TRT da 2ª Região, no sentido de que a faculdade assegurada ao obreiro objetiva à obtenção de um título extrajudicial, não afetando o direito de ação constitucionalmente garantido (art. 5º, XXXV, da Constituição Federal/88).

Por derradeiro, imprescindível ressaltar que a matéria restou absolutamentesuperada diante de recente decisão do E. Supremo Tribunal Federal, datada de 13.09.2008 (DOU 23.05.2009), que em sede de medida cautelar na Ação Direta de Constitucionalidade nº 2139/2000, deu interpretação conforme a Constituição Federal ao art. 625-D da CLT em comento, afastando a obrigatoriedade de submissão da lide à Comissão de Conciliação Prévia.



Ilegitimidade ativa. O Espólio postula direitos próprios, em nome próprio, sendo a inventariante representante legal deste.

Note-se que não há pedido por dano moral em ricochete, tampouco postulação em nome próprio dossucessores, mas sim, danos materiais e morais do próprio de cujus, através do Espólio e sua representante.

Vale registrar que com a morte todos os direitos patrimoniais passam a integrar o Espólio, sendo certo que a pretendida indenização por danos morais tambémse transmite aos sucessores com o óbito.

Nesse sentido a posição dominante do C. TST:

LEGITIMIDADE ATIVA DO ESPÓLIO - DANOS MORAIS E MATERIAIS. 1. Consoante a norma inserta no art. 943 do Código Civil, o direito de exigir reparação e a obrigação de prestá-la transmitem-se com a herança. 2.

Logo, o espólio tem legitimidade ativa para propor ação de indenização por danos morais e materiais, porquanto trata-se de reparação cuja natureza é patrimonial e decorrente do contrato de trabalho. Isso porque o que se transmite é o direito de ação e não o direito material em si, este de natureza personalíssima do empregado falecido. 3. Assim, a decisão regional que considerou o Espólio Autor parte ilegítima para propor a presente demanda violou o dispositivo legal em comento. Recurso de revista provido. (RR - 151000-43.2009.5.08.0015, Relator Ministro: Ives Gandra Martins Filho, Data de Julgamento: 29/02/2012, 7ª Turma, Data de Publicação:02/03/2012)

Rejeito a preliminar.



Prescrição total. À luz da teoria da actio nata o prazo prescricional começa a fluir da ciência inequívoca dos fatos que autorizam a pretendida reparação civil.

No caso, de cujus teve ciência inequívoca da moléstia e sua gravidade - que culminou em sua morte - somente em 30/04/2008 (fls. 81), logo, somente a partir de tal data iniciou-se a contagem prescricional.

Irrelevante a data da rescisão contratual, porquanto à reparação civil toma-se em conta a data da ciência inequívoca da lesão, posicionando-se nesse sentido a jurisprudência majoritária, inclusive do STJ: Súmula 278.

Destarte, considerada a data da distribuição da ação (26/11/2008), sob qualquer ângulo (prescrição civil ou trabalhista) não há se falar em extinção do feito.

Rejeito a prejudicial.



Danos materiais e morais. À responsabilização civil exige-se a conjugação dos seguintes requisitos: ato ilícito (ação ou omissão culposa lato sensu), dano e nexo causal quer sob o enfoque do CCB de 1916 como no de 2002.

O dano moral é inegável, já que o de cujus foi acometido de grave doença que desaguou em sua morte.

Relembro que aos danos morais não se exige prova de efetivo sofrimento, bastando que os fatos revele situação que gerariam sofrimento em qualquer homem médio, o que é evidente na hipótese.

O dano material, igualmente é inegável, diante das despesas comprovadas nos autos.

O nexo causal também é irrefutável, frente ao laudo pericial que atesta de forma veemente a relação de causa e efeito entre trabalho e moléstia, in verbis:... Recente documento do Collegium Ramazzini conclui claramente que todas as formas de asbesto causam asbestose, uma doença fibrótica progressiva dos pulmões. Todas podem causar câncer do pulmão e mesotelioma maligno (caso do de cujus)...O câncer de pulmão e o mesotelioma aparecem após um longo período de latência, normalmente 30 a 40 anos da exposição inicial... (fls. 350/351).

Mais, o perito deixou claro que no caso do mesotelioma não há relação estanque entre a dose de exposição e a moléstia:... Há uma relação dose-resposta com o câncer de pulmão, portanto normalmente encontra-se uma história de exposição. Isso não ocorre com o mesotelioma, em que é mais importante o tipo de exposição do que o tempo de exposição... (fls. 351).

E arremata:... O óbito do de cujus ocorreu devido a um quadro de septicemia pós cirúrgica de mesotelioma pleural por exposição ao amianto doença de caráter ocupacional. Portanto o de cujus foi portador de grave doença respiratória desencadeada por exposição a amianto quando de seu pacto laboral para a ré. Existe nexo de causalidade entre as doenças alegadas e as condições de trabalho do autor... (fls. 356).

Resta, portanto, aferir a existência de ação/omissão culposa da ré.

E, no caso, a resposta é positiva.

Isto porque, ainda que à época do contrato de trabalho do autor não existisse regulamentação cogente sobre o fornecimento de EPI, certo é que o risco ocupacional já era conhecido, tanto que existiam Decretos e Portaria do MTPS (atual MTE) tratando das partículas em suspensão, tendo o laudo pericial, ainda, apontado claramente que “A primeira referência sobre asbestose no Brasil data de 1956” (fls. 353).

Assim, sendo a atividade preponderante da ré voltada à exploração de amianto deveria ter se valido de máxima diligência a fim de ilidir os riscos ocupacionais, o que não se deu, já que as testemunhas deixaram claro que não havia o fornecimento de EPI e que havia muita poeira no local.

Nem se diga que a ausência de previsão legal acerca do fornecimento de EPI ilidiria a culpa da ré, já que, como visto, à época já se tinha conhecimento - talvez não com toda a profundidade de hoje - dos riscos da atividade desempenhada, tanto que a própria testemunha defensiva admitiu indiretamente que em outros setores, que não o do reclamante, já se fornecia EPI: para o setor do reclamante não eram fornecidos EPI.

Note que a empregadora, assumindo os riscos do empreendimento e auferindo os lucros respectivos deve zelar pela higidez de seus empregados e pelas condições seguras do ambiente do trabalho, o que incorreu na hipótese. Tais deveres já se encontravam assegurados no art. 158, IX, da Constituição Federal de 1967.

Destarte, a responsabilização da ré se impõe.

Porém, devem ser sopesados na fixação do dano moral o grau de culpa da ré no evento danoso, notadamenteporque à época não se tinha regramento específico para fornecimento de EPI, tampouco pleno conhecimento dos riscos ocupacionais pertinentes.

Assim, condeno a ré em indenização por danos morais no importe de R$ 300.000,00, considerando-se no arbitramento: (i) o aspecto lenitivo da indenização para a vítima, (ii) o aspecto pedagógico para o empregador, (iii) o grau de culpa da ré, e (iv) o não enriquecimento sem causa do autor.

Condeno, a ré, ainda em indenização por danos materiais com despesas de funeral e médicas devidamente comprovadas nos autos, consoante se apurar em liquidação com base nos documentos juntados e limitada ao valor do pedido.

Rejeito o pedido por lucros cessantes, eis que não apontado, muito menos demonstrado, prejuízo efetivo.

Honorários periciais pela ré no importe ora arbitrado de R$ 2.500.00.



Honorários Advocatícios. Indenização: Indevidos, pois o reclamante não preencheu os requisitos exigidos pela Lei 5584/70, os quais ainda vigoram por força dos preceitos consolidados, mormente o art. 791, que traz a figura do jus postulandi, não revogada pelo art. 133 da CF/88, nem mesmo pela Lei n.º 8.906/94, que apenas regulamentou a profissão de advogado, não impedindo que a parte aja em causa própria.

Nesse sentido a posição assente do C. TST, através da Súmula de n.º 329.

Igualmente, indevida a indenização perseguida com fulcro na responsabilidade civil, visto que a contratação de causídico é facultativa nesta especializada, diante do jus postulandi já referido.

Assim, em que pese salutar a participação de profissional habilitado, não há espaço para responsabilização civil do reclamado onde a perda patrimonial decorrente da contratação de causídico decorreu de ato volitivo do próprio demandante.



Justiça Gratuita. Com fulcro nos arts. 790, § 3º, e 790-B, da CLT, defiro à autoria os benefícios da justiça gratuita, isentando-a do pagamento das custas processuais e demais despesas processuais.



Compensação/ Dedução. A reclamada não demonstrou ser credora da reclamante de quaisquer verbas de natureza trabalhista.

Por outro lado, fica autorizada a dedução dos consectários pagos a mesmo título, nos mesmos períodos, devendo ser abatidos do crédito da reclamante.



Correção Monetária. A correção monetária é devida a partir do vencimento da obrigação, nos termos do art. 459, parágrafo único da CLT, c/c com o parágrafo 1o. da Lei 8177/91.

Neste sentido, a Súmula nº 381 do TST.

No que pertine aos danos morais, a correção monetária se dá a partir da prolação da presente.



Recolhimentos Fiscais e previdenciários. As parcelas deferidas possuem caráter indenizatório, logo, não há se falar em recolhimentos previdenciários e fiscais.



Ofícios. Oficie-se à DRT, MPT, INSS e Procuradoria da Fazenda ante as irregularidades apuradas.



Demais argumentos. Os demais argumentos expendidos pelas partes ficam rechaçados, valendo relembrar queo Juízo não é obrigado a tecer considerações sobre todas as teses e ponderações lançadas, bastando manifestar seu livre convencimento fundamentado.

Relembro às partes, ainda, que não há se falar em pré-questionamento em 1ª Instância.



Por fim, alerto às partes quanto às disposições do art. 538, parágrafo único do CPC.



DISPOSITIVO



POSTO ISTO, julgo a presente reclamação PROCEDENTE EM PARTE, para condenar a reclamada ETERNIT S.A., a pagar para o reclamante, ESPÓLIO DE ALDO VICENTIN, nos termos da fundamentação, os seguintes títulos:

- indenização por danos morais no importe de R$ 300.000,00;

- indenização por danos materiais com despesas de funeral e médicas devidamente comprovadas nos autos, consoante se apurar em liquidação com base nos documentos juntados e limitada ao valor do pedido.

Oficie-se à DRT, MPT, INSS e Procuradoria da Fazenda ante as irregularidades apuradas.

Honorários periciais pela ré no importe ora arbitrado de R$ 2.500.00.

As verbas ilíquidas serão apuradas em regular liquidação de sentença, conforme parâmetros descritos na fundamentação.

Natureza das verbas deferidas, conforme fundamentação.

Recolhimentos fiscais e previdenciários, na forma estabelecida na fundamentação.

Juros de mora na forma da lei, pro rata die, a partir da data do ajuizamento da ação, sobre o capital monetariamente corrigido (art. 39, parágrafo 1º, da Lei 8177/91) no que tange aos danos materiais. No que pertine aos danos materiais, a correção monetária observará a data da prolação da presente, já que até então não havia liquidez para se falar em mora da ré.

Correção monetária na forma da fundamentação supra.

Defiro para o demandante os benefícios da justiça gratuita.

Custas processuais pela reclamada, calculadas sobre o valor de R$ 100.000,00, ora arbitrado à condenação, no importe de R$ 2.000,00.

Cientes as partes nos termos da Súmula 197 do C. TST.

Intime-se a União.

Nada mais.



André Eduardo Dorster Araujo

Juiz do Trabalho Substituto





quarta-feira, 8 de agosto de 2012

JUSTIÇA DE SÃO PAULO DETERMINA AOS LOBBYSTAS DO AMIANTO RETIRAR INSULTOS À FERNANDA GIANNASI DE BLOGS, SITES E PUBLICAÇÕES NA INTERNET

Segue, abaixo, inteiro teor da decisão proferida pela juíza da 39ª Vara Cível de SP Capital que deferiu pedido de antecipação de tutela, determinando a retirada das matérias ofensivas no prazo de 5 (cinco) dias, sob pena de multa diária de R$ 5.000,00 (cinco mil reais) por matéria.

Processos - 1ª Instância - Comarcas da Capital - Cível

08/08/2012 07:45:18

Fórum Central Civel João Mendes Júnior - Processo nº: 583.00.2012.161487-1

parte(s) do processo andamentos

Processo CÍVEL

Comarca/Fórum Fórum Central Civel João Mendes Júnior

Processo Nº 583.00.2012.161487-1

Cartório/Vara 39ª. Vara Cível

Competência Cível

Nº de Ordem/Controle 1285/2012

Grupo Cível

Ação Procedimento Ordinário

Tipo de Distribuição Livre

Distribuído em 26/06/2012 às 16h 15m 27s

Moeda Real

Valor da Causa 100.000,00

Qtde. Autor(s) 1

Qtde. Réu(s) 3


PARTE(S) DO PROCESSO [Topo]

Requerente FERNANDA GIANNASI

Advogado: 19241/DF MAURO DE AZEVEDO MENEZES

Requerido INSTITUTO BRASILEIRO DO CRISOTILA IBC

Requerido LUIZ CARLOS BORDONI

Requerido SINDICATO DOS TRABALHADORES NA IND DA EXTRAÇÃO DE MINERAIS NÃO METÁLICOS DE MINAÇU

ANDAMENTO(S) DO PROCESSO [Topo]

(Existem 14 andamentos cadastrados.)

(Serão exibidos os últimos 10.)

(Para a lista completa, clique aqui.)

06/08/2012 Aguardando Publicação - imp. 07/08 - rafa

06/08/2012 Aguardando Providências - encaminhado ao cart. para baixa às 10h30 - luciana

03/08/2012 Despacho Proferido

Vistos. As várias matérias publicadas em sites pelos três réus (cópias instruíram a inicial) revelam que em razão da disputa acirrada que vem sendo travada em relação a possíveis efeitos maléficos do amianto, havendo aqueles que defendem com intensidade o potencial cancerígeno do produto e outros que o rechaçam Veementemente, têm sido efetuadas críticas severas à autora e sua atuação combativa. A discussão, que em um Estado Democrático de Direito é profícua e alentadora pela ampla possibilidade de cada parte defender seu ponto de vista, perde este caráter benéfico quando desborda para ofensas pessoais, que superam a liberdade de manifestação do pensamento e se mostram potencialmente capazes de afetar os direitos da personalidade da pessoa criticada. Os elementos dos autos autorizam a afirmação primeira de excesso nas críticas, com imputações pesadas e ofensivas à autora, valendo-se de expressões como “atua de forma ilegal e irresponsável” (matéria do IBC de 26.1.09), “cuja conduta autoritária, para dizer o mínimo, é suspeita” (matéria do IBC de 27.7.2010), ao chamá-la de desonesta com a expressão “...querendo estampar ética e santidade em desonesta prática em que os fins justificam os meios” , desenvolvendo, ainda, a expressão “mentiras giannásticas” (blog de Luiz Carlos Bordoni 21.9.2011) e “enredo giannástico, quando não o desmente” e mais à frente “Fernanda mente”, sempres com insistência em chamar por meios diversos a autora de mentirosa (blog de Luiz Carlos Bordoni de 25.9.2011). Esse raciocínio também aparece na equiparação de seu método de trabalho ao de Goebbels, ministro da propaganda de Adolf Hitler, que adotaria procedimento de repetir exaustivamente mentiras até que se tornassem verdades (blog de Luiz Carlos Bordoni de 8.5.2012), entre outros. As citações, exemplificativas, permitam se infira, em primeira impressão, sujeita à alteração por força do contraditório, de que se optou pela ofensa direta em detrimento da crítica sadia, de maneira que deve ser acolhido em antecipação da tutela, pela verossimilhança das alegações e receio de dano irreparável à honra da autora, o pedido de retirada das matérias elencadas na inicial por parte dos réus LUIZ CARLOS BORDONI (em seu blog); INSTITUTO BRASILEIRO DE CRISOTILA (site) e SINDICATO DOS TRABALHADORES NA INDÚSTRIA DA EXTRAÇÃO DE MINERAIS NÃO METÁLICOS DE MINAÇU (em relação a reproduções das matérias reputadas ofensivas de autoria do jornalista Luiz Carlos Bordonio), em cinco dias, sob pena de multa diária de R$ 5.000,00 em relação a cada violação. Citem-se, servindo a cópia do presente acompanhada de uma via da petição inicial, como carta de citação, conforme o disposto no artigo 222 do Código de Processo Civil, valendo o recibo que a acompanha como comprovante de que esta citação e intimação se efetivou. Fica(m) o(s) réu(s) ciente(s) do prazo de 15 (quinze) dias para apresentar(em) a defesa, por meio de advogado. O(s) réu(s) também fica(m) advertido(s) de que a ausência de resposta possibilitará que sejam aceitos como verdadeiros os fatos articulados na inicial cuja cópia segue anexa (art. 285 do CPC). Intimem-se.

02/08/2012 Conclusos 3/8

02/08/2012 Aguardando Providências - min r. inicial 02/08 - rafa

16/07/2012 Aguardando Providências minuta 16/07 tr

05/07/2012 Aguardando Juntada autor p

29/06/2012 Aguardando Publicação em 16/07 p

29/06/2012 Aguardando Providências BAIXA

28/06/2012 Despacho Proferido

Vistos. Providencie a parte autora, no prazo de dez dias, o recolhimento das custas postais, sob pena de indeferimento da inicial. Int.

SÚMULA(S) DA(S) SENTENÇA(S) DO PROCESSO [Topo]

(Nenhuma súmula cadastrada.)

Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo - Palácio da Justiça - Praça da Sé, s/n - São Paulo - SP - CEP 01018.010

Versão: 2012.05.11.1. s.140

domingo, 29 de abril de 2012

IMPORTANTE DECISÃO DA JUSTIÇA DO TRABALHO DO RIO DE JANEIRO QUE CONDENOU A TEADIT (EX-ASBERIT) A INDENIZAR FAMILIARES DE EX-EMPREGADA MORTA POR ASBESTOSE QUE TRANSACIONOU COM EMPRESA EM VIDA ACORDO EXTRAJUDICIAL

PODER JUDICIÁRIO

JUSTIÇA DO TRABALHO

TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 1ª. REGIÃO







PROCESSO N.° RTOrd 0000440-34 2011.5.01.0009

9ª. VARA DO TRABALHO DO RIO DE JANEIRO



ATA DE AUDIÊNCIA DE JULGAMENTO



Aos ___dias do mês de março do ano de 2012, às __ horas, na Sala de Audiências da 9ª. VARA DO TRABALHO DO RIO DE JANEIRO, na presença da Juíza do Trabalho Drª. RAQUEL PEREIRA DE FARIAS MOREIRA, foram apregoados os litigantes ICLÉA LIMA DOS SANTOS, ALYNE SANTOS DE SOUZA, ILANA DOS SANTOS RANGEL, JOIL DOS SANTOS RANGEL, HELEN DOS SANTOS RANGEL, DIANA DOS SANTOS RANGEL, LAYLSON DOS SANTOS RANGEL, IRAN LIMA DOS SANTOS, por si, assistindo IRAN MIGUEL DOS SANTOS, e representando VITOR MIGUEL DOS SANTOS, SILVANA LIMA VIANEL GOMES E LUIZ VIANEL, Reclamantes, e ASBERIT LTDA. a TEADIT INDÙSTRIA E COMÉRCIO LTDA., Reclamadas.

Ausentes as partes

Obedecidas as formalidades legais passou a VARA DO TRABALHO a proferir a seguinte:





SENTENÇA

Vistos, etc.



ICLÉA LIMA DOS SANTOS, ALYNE SANTOS DE SOUZA, ILANA DOS SANTOS RANGEL, JOIL DOS SANTOS RANGEL, HELEN DOS SANTOS RANGEL, DIANA DOS SANTOS RANGEL, LAYLSON DOS SANTOS RANGEL, IRAN LIMA DOS SANTOS, por si, assistindo IRAN MIGUEL DOS SANTOS, e representando VITOR MIGUEL DOS SANTOS, SILVANA LIMA VIANEL GOMES E LUIZ VIANEL, devidamente qualificados na petição inicial de fls. 02/14, ajuizaram, em 01/11/00, Ação de Reparação de Danos Morais e Materiais em face de ASBERIT LTDA. e TEADIT INDÚSTRIA E COMERCIO LTDA., também ali qualificada(s) alegando serem filhos, netos e marido da falecida Maria de Lourdes Lima Vianel, empregada da 1ª. reclamada de 1972 a 1980, na função de fiandeira; formularam em razão dos fatos e fundamentos que expuseram, os pedidos de pensões mensais vencidas e vincendas e indenização por danos morais, dentre outros discriminados na peça de ingresso.

Com a inicial vieram procurações e o(s) documento(s) de fls. 15/133.

Conciliação recusada.

Resistindo à pretensão às fls. 292/327, a 1ª. Reclamada apresentou defesa escrita, sob a forma de contestação, suscitando a(s) preliminar(es) de coisa julgada e arguindo a prejudicial de prescrição total. No mérito propriamente dito, pugnou pela improcedência total da pretensão, pelas razões de fato e de direito ali expendidas.

Instruíram a defesa o(s) documento(s) de fls. 329/536.

De outra parte, a 2ª. reclamada defendeu-se às fls. 181/201, suscitando preliminares de ilegitimidade passiva ad causam e de coisa julgada arguindo a prejudicial de prescrição total e no mérito propriamente dito requerendo sejam os pedidos improcedentes, pelos motivos ali aduzidos.

Juntou documentos (fls. 203/290).

Réplica às fls. 541/546, com documentos (fls. 548/764), e manifestação das reclamadas sobre os documentos às fls. 769/774.

Decisão do Juízo de direito da 7ª. Vara Cível da Comarca da Capital às fls. 814/816 rejeitando as preliminares de ilegitimidade passiva da 2ª. reclamada e de coisa julgada e afastando a prejudicial de prescrição total.

Laudo do perito-tradutor às fls. 874/1006.

Ofício da JUCERJA com documentos (fls. 1020/1146).

Manifestação das rés às fls. 1169/1171.

Ofício da Fundação Oswaldo Cruz com documentos (fls. 1192/1229).

Laudo pericial médico às fls. 1232/1248, com manifestações dos reclamantes às fls. 1261 e das rés às fls. 1264/1271, com documentos (fls. 1272/1311).

Laudo dos assistentes técnicos das reclamadas às fls. 1313/1316.

Decisão do Juízo às fls. 1339 rejeitando o requerimento das rés de nulidade do laudo pericial médico.

Petição das reclamadas com documentos – fls.1381/1399.

Laudo pericial contábil às fls. 1453/1486, com documentos (fls.1487/1724).

Parecer do assistente técnico das reclamadas às 1730/1736; manifestação das partes: pelas rés às fls. 1742/1749 e pelos autores às fls. 1807/1822, com parecer técnico e documentos às fls. 1823/1843.

Manifestação do perito contábil às fls.1885/1904, com documentos (fls.1906/1974), das reclamadas às fls. 1978/1985 e 2011/2024 e dos autores às fls. 1992, com parecer às fls. 1995/2006, e fls. 2027/2030.

Foram colhidos os depoimentos da(s) testemunha(s) de fls. 2088/2091.

Decisão do Juízo Cível às fls.2093/2094 declinando da competência para uma das Varas do Trabalho do Rio de Janeiro.

Aditamento a contestação da 2ª. reclamada às fls. 2126/2147.

Sem outras provas, encerrou-se a instrução processual.

Em razões finais por memoriais (pelos reclamantes às fls. 2150/2154, com documentos, pela 1ª. reclamada às fls. 2193/2197 e pela 2ª. reclamada às fls. 2198/2207), as partes reportaram-se aos elementos constantes dos autos.

Renovada, a proposta conciliatória foi recusada.

Convertido o julgamento em diligencia (fls.2208), os reclamantes que alcançaram a maioridade no curso do processo regularizaram o pólo ativo, juntando procuração (fls. 2210/2226),



É o RELATÓRIO.

ISTO POSTO, DECIDE-SE:



PRELIMINAR DE COISA JULGADA:

Invocaram as rés a preliminar de coisa julgada, com base no art.. 1030 do C/1916, reportando-se ao termo de transação extrajudicial firmado entre a falecida Maria de Lourdes e a 1ª. reclamada (fls. 75/76), em 15/07/99.

Nos termos do art. 1030 do código Civil de 1916, a transação produz entre as partes o efeito de coisa julgada; ocorre que não há identidade de partes, uma vez que a transação não foi celebrada pelos reclamantes, e sim pela Srª. Maria de Lourdes.

Com efeito, na cláusula 3ª. do indigitado termo de transação, consta que o segundo transigente (a Srª. Maria de Lourdes) obriga-se a nada mais reivindicar, seja a que título for, com base na referida pretensão, obrigando-se por si e sucessores a manter a primeira transigente livre e a salvo de ações cuja origem seja a que deu margem à presente transação.

No entanto, este juízo entende que essa cláusula é ineficaz com relação aos sucessores, uma vez que estes não assinaram o acordo. A transação não aproveita nem prejudica senão aos que nela intervieram, ex vi do art. 1.031 do CC/1916 (art. 884 do CCB/2002).

Nesta demanda, os reclamantes estão agindo em nome próprio, reivindicando direito próprio (não direito derivado), qual seja, indenização por danos morais e materiais causados neles mesmo, em razão da morte de sua esposa, mãe e avó, o que é perfeitamente possível.

Rejeita-se.



PRELIMINAR DE ILEGITIMIDADE PASSIVA AD CAUSAM ARGUIDA PELA 2ª. RÉ:

Tendo a 2ª. reclamada sido indicada, na exordial, como sucessora da 1ª. reclamada, tal afirmativa é suficiente para legitimá-la a figurar no pólo passivo da presente ação, estando presente a pertinência subjetiva.

Ressalte-se que a análise das condições da ação deve ser feita em abstrato, in statu assertionis, à vista do que afirmado pelo(a) autor(a), consoante a Teoria da Asserção, devendo o Juízo admitir, por hipótese e provisoriamente, a veracidade das assertivas expendidas na inicial.

Se a 2ª. reclamada é ou não sucessora e, como tal, responsável pelos créditos postulados na presente demanda, trata-se de discussão que será apreciada juntamente com o mérito.

Rejeita-se preliminar suscitada.



NO MÉRITO, DA PRECRIÇÃO TOTAL:

Arguiram as rés a prescrição total das pretensões, ao argumento de que a falecida Mara de Lourdes Lima Vianel foi dispensada da 1ª. reclamada em 08/05/80 e a distribuição da presente ação somente se deu em 01/11/00, mais de vinte anos depois (de acordo com o Código Civil) ou mais de dois anos após o término do contrato (de acordo como o art. 7º., XXIX, da CRFB).

A pretensão, assim definida como o poder de exigir a satisfação da prestação (vale dizer, sua exigibilidade), surge a partir da lesão de direito da parte; é a chamada actio nata (o nascimento da ação). A prescrição (perda, pelo decurso do tempo, do poder de buscar a satisfação compulsória da obrigação) se inicia no momento em que há a violação do direito.

In casu, os autores postulam o pagamento de indenização por danos materiais (pensão vitalícia) e morais, tendo por fundamento a morte da ex-empregada da primeira reclamada alegadamente causada por negligencia do empregador, que não tomou as devidas cautelas recomendadas pela legislação de segurança e higiene do trabalho, ocasionando sua exposição ao amianto, contaminação ulterior morte.

Portanto, o nascimento da ação se deu com o falecimento da Srª. Maria de Lourdes Lima Vianel, em 23/09/00.

Considerando que a presente demanda foi ajuizada em 01/11/00, menos de dois meses depois, não há que se falar em prescrição total do direito de ação. Ressalte-se, ainda, que, no Processo do Trabalho, o prazo prescricional se interrompe com o ajuizamento da ação, e não com a citação valida dos réus.

Rejeita-se.



GRUPO ECONÔMICO, SUCESSÃO DE EMPREGADORES E RESPONSABILIDADE DAS RECLAMADAS:

Alegaram os reclamantes, na petição inicial, que a 2ª. reclamada é sucessora da primeira, “tendo sido criada com finalidade específica de dificultar a obtenção, por parte de dezenas de vitimas do amianto que trabalharam naquela industrial, da devida e justa indenização, residindo aí a razão de sua inclusão no presente feito.”

Na réplica de fls. 541 e seguintes, esclarecem que as rés fazem parte do mesmo grupo econômico, são sociedades que tem a mesma unidade operacional e a mesma sede e os empregados da 1ª. reclamada foram transferidos, sem interrupção de seus contratos de trabalho, à 2ª. reclamada, quando esta assumiu as operações industriais daquela, sendo a prova disso a CTPS de um empregado contratado pela 1ª. reclamada e dispensada pela 2ª. reclamada (fls. 604); reportaram-se ao voto vencido no acórdão proferido nos autos da apelação cível n. 3.170/2000, juntando documentos.

A 2ª. reclamada negou a alegada sucessão de empregadores, bem como que tenha havido qualquer transformação, fusão ou incorporação entre as empresas, resaltando, que a 1ª. reclamada jamais deixou de existir; que o fato de a sede da 1ª. reclamada jamais deixou de existir; que o fato de a sede da 1ª. reclamada ter sido no passado, na Av. Automóvel Clube, número 8.939, atual endereço da 2ª. reclamada, se explica porque a segunda reclamada era proprietária das instalações físicas (terreno, galpão, etc.) e das maquinas usadas pela 1ª. ré, com a qual mantinha contrato de locação (fls. 211/217), mas sem jamais assumir qualquer atividade fabril; reportou-se ao acórdão proferido nos autos da apelação cível n. 3.170/200 (fls. 219/248), que acolheu a preliminar de ilegitimidade passiva por ela suscitada.

Na manifestação de fls. 769/774, afirmou que as empresas não possuem mesma unidade operacional, possuindo cada uma sede num local distinto da outra.

As duas situações tipo tradicionais de sucessão são as seguintes: a alteração da estrutura formal da pessoa jurídica (modificações na modalidade societária ou processos de fusão, incorporação, cisão e outros modelos correlatos, alem da mudança de uma firma individual para o modelo societário ou o processo inverso) e a substituição do antigo titular passivo da relação empregatícia por outra pessoa física ou jurídica. Este caso abrange situações em que há a aquisição de estabelecimentos isolados ou em conjunto, ou aquisições da própria empresa em sua integralidade. Tal alienação pode ocorrer por qualquer titulo hábil a operar a transferência das universalidades, pode ser feita de forma definitiva ou provisória, como nos arrendamentos, a título gratuito ou oneroso, de forma pública – leilões – ou privada, etc.

A doutrina cita a existência de dois requisitos da sucessão trabalhista, que seriam, o primeiro, a transferência de uma unidade econômico-jurídica de um para outro titular – a transferência de titularidade de toda a empresa, de um ou alguns de seus estabelecimentos, específicos ou, ao menos, de uma fração empresarial significativa que, em seu conjunto, traduza a noção de unidade econômico-produtiva -, e o segundo, a continuidade da prestação laborativa.

Desta forma, preenchidos os requisitos configuradores da sucessão, ex vi legis, esta não pode ser afastada pela vontade das partes, por se tratar de norma de ordem pública e cogente, sendo irrelevante, ainda, que a sucedida continue existindo ou não.

De acordo com o laudo pericial de fls. 1453 e seguintes, em 03/02/97, foi eliminada da 1ª. reclamada a atividade de industrialização; nesse mesmo mês, ocorrem transferências de 170 empregados da 1ª. para a 2ª. reclamada, não tendo havido solução de continuidade dos contratos de trabalho desses empregados.

Como se não bastasse, no depoimento pessoal do preposto da 2ª.reclamada nos autos do processo 00042-10.2007.501.0048, mencionado no acórdão juntado nos autos às fls. 2156/2175 (utilizado pelos reclamantes como prova emprestada), especificamente no tópico “da responsabilidade da segunda ré” (fls. 2160), há evidente confissão quanto à sucessão de empregadores, ao declarar o mesmo que “nos idos de 1997 a ré adquiriu boa parte do parque fabril da Asberit, localizada no bairro Colégio, como edifício, maquinário e parcela dos funcionários, que foram transferidos para trabalharem nas mesmas atividades que outrora eram desenvolvidas pela primeira demandada”.

Não há duvidas acerca da sucessão trabalhista, nos moldes do art. 10 e 448 da CLT, restando demonstrada a absorção de parte do patrimônio da empresa sucedida, pela sucessora, inclusive com transferência das obrigações trabalhistas para esta.

O Juízo não está adstrito ao laudo pericial (que, inexplicavelmente, concluiu pela inexistência de sucessão), na forma do art. 436 do CPC, e nem poderia, já que as conclusões do i. expert estão em total dissonância com os dispositivos legais acima mencionados, que regem a sucessão de empregadores no Direito do Trabalho.

Quanto ao alegado grupo econômico, o voto vencido na Apelação Cível n. 3.170/200 (fls. 548/551), utilizado pelos reclamantes como prova emprestada, concluiu que as reclamadas são integrantes de um mesmo grupo econômico, nos moldes do art. 2º., §2º., da CLT, e, como tal, solidariamente responsáveis para efeitos da relação de emprego.

Não só o voto vencido, mas como o próprio voto vencedor (fls. 219/248, utilizado pelas rés como prova emprestada), ao acolher a preliminar de ilegitimidade passiva da 2ª. reclamada, concluiu que “não se tem dúvidas, e nem as evidencias permitem negar, que ambas as empresas são integrantes do mesmo grupo econômico, com a mesma cotista majoritária participando de ambas, e que esta interação societária é explicação mais do que lógica para eventual encampação de um ou outro funcionário e para terem, durante um período, ocupado inclusive as mesmas instalações físicas”.

Em verdade, a própria 2ª. reclamada reconhece ser do mesmo grupo econômico da 1ª. ré, conforme se vê do carimbo acostado na página 50 das anotações gerais da CTPS de Carlos Alberto dos Santos (fls. 602/605): “ Funcionário transferido pela TEADIT INDUSTRIA E COMÉRCIO LTDA., empresa do mesmo grupo econômico, a partir de 01/02/97 (...)”.

Portanto, a 2ª. reclamada é sucessora da 1ª. ré e ambas compõem mesmo grupo econômico, sendo solidariamente responsáveis pelos créditos porventura reconhecidos nesta sentença, nos termos do art. 2º., §2º., da CLT.



INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS

Alegam os reclamantes que a Srª. Maria de Lourdes Lima Vianel faleceu em 23/09/2000 vítima de asbestose, em razão da intensa exposição à poeira do amianto a que ficou submetida durante a vigência de seu contrato de trabalho com a 1ª. reclamada, de 15/05/72 a 08/05/80, no exercício da função de fiandeira; que a 1ª. ré, apesar de possuir amplo conhecimento dos danos que o amianto pode causar aos que aspiram suas fibras, jamais tomou qualquer providencia no sentido de alertar seus empregados quanto ao risco da exposição ao agente nocivo, como também não adotou qualquer medida de segurança do trabalho apta a impedir ou minorar a eclosão das doenças derivadas dos asbestos; que a 1ª. reclamada não forneceu dispositivo de proteção, individual ou coletivo, para prevenir a ingestão e inalação da grande quantidade de poeiras provenientes do ambiente de trabalho; que, em consequência disso, a vítima adquiriu a doença denominada asbestose, o que determinou sua incapacidade para o trabalho e, posteriormente, sua morte.

Juntaram certidão de óbito (fls. 53), constando, como causa mortis, “asbestose”, insuf. respiratória”, e laudo da Fundação Oswaldo Cruz (fls. 55).

A 1ª. reclamada alega não haver provas de que a Srª. Maria de Lourdes tinha sido portadora da referida doença ocupacional, mas, ainda que houvesse tal prova, nenhuma responsabilidade poderia ser imputada à empresa, que sempre atuou com responsabilidade e zelo junto a seus empregados e com respeito à legislação pertinente às atividades de prática, fornecendo treinamentos, equipamentos de segurança ministrando palestras sobre segurança do trabalho, tendo, inclusive, recebendo prêmios em razão do cuidado que possui com a segurança de seus empregados; que o laudo elaborado pela FIOCRUZ faz diagnóstico da asbestose por mera analogia, já que o único critério utilizado para constatação inequívoca da asbestose; que o simples fato de a falecida ter laborado em suas dependências, cuja matéria prima é o amianto, e deve ser sua atividade insalubre – o que lhe gera por lei um adicional remunerativo – não evidencia a culpa da 1ª. reclamada em caso de contração de asbestose, pois se trata de uma atividade lícita na qual foram observadas todas as formalidades legais para a exposição dos empregados ao referido mineral; que, além dos EPIs, fornecidos a partir da vigência da Portaria 3.214/78 (que os tornou obrigatórios), sempre existira mos equipamentos de proteção coletiva da última geração, sendo sempre monitorado nos limites de poeira do ambiente, estando sempre dentro dos parâmetros legais; que sempre realizou exames médicos em seus empregados inclusive demissionais, jamais tendo observado qualquer das anomalias alegadas pelos reclamantes.

A 2ª. reclamada ressaltou que a asbestose não pode ser diagnosticada sem margem de erro senão quando procedidos os seguintes exames pulmonares: tomografia computadorizada, lavagem bronco alveolar com análise citológica e mineralógica, testes imunológicos e sorológicos e biópsia pulmonar, com estudo histopatológico, de maneira a constatar por exame microscópio a existência de fibra de amianto sendo fagocitadas; que tais provas não vieram aos autos, não havendo, portanto, a configuração da referida doença.

O laudo da Fundação Osvaldo Cruz (fls. 55), expedido em 18/11/98, concluiu que a Srª. Maria de Lourdes, segundo sua história de exposição e as alterações radiológicas, era portadora de asbestose com comprometimento da função pulmonar, orientando-a a se submeter a acompanhamento regular, com avaliação radiológica e funcional por período não inferior a 30 anos.

O i. perito médico iniciou seu laudo (fls. 1233 e seguintes – perícia indireta) fazendo algumas considerações sobre o asbesto, material que produz a doença asbestose, e sobre a própria doença, que valem ser repetidas nesta oportunidade:

O asbesto ou amianto é fibra mineral natural sedosa que, por suas propriedades físico-químicas (alta resistência mecânica e às altas temperaturas, incombustibilidade, boa qualidade isolante, durabilidade, flexibilidade, indestrutibilidade, resistência ao ataque de ácidos, álcalis e bactérias, facilidade de ser tecida etc.), abundância na natureza e, principalmente, baixo custo, tem sido largamente utilizado na indústria. É extraído fundamentalmente de rochas compostas de silicatos hidratados de magnésio, onde tão somente 5 a 10% se encontram em sua forma fibrosa de interesse comercial.

Com o advento da Revolução Industrial no século XIX, o amianto foi a matéria-prima escolhida para isolar termicamente as máquinas e equipamentos e foi largamente empregado, atingindo seu ápice nos esforços da primeira e segunda guerras mundiais. Dali para frente, as epidemias de doenças relacionadas com exposição ao amianto e ao aumento exponencial das suas vítimas levaram o mundo moderno ao conhecimento e reconhecimento de que o uso do amianto representa um dos males industriais do século XX mais graves em todo o mundo, passando a ser considerado daí a “poeira assassina”, tendo sido banido em diversos países do mundo, ou, ainda, limitado drasticamente no seu uso.

Não há amianto seguro, seja do tipo que for.

O Brasil está entre os cinco maiores produtores do mundo e é também um grande consumidor, havendo por isso um grande interesse cientifico em nível mundial sobre nossa situação, quando praticamente todos os países europeus já proibiram seu uso. A maior mina em exploração no Brasil situa-se no município de Minaçu, no Estado de Goiás, e é administrada por empresas ligadas ao grupo multinacional francês Saint-Gobain, em parceria com a empresa Eternit suíça, em cujos países de origem é proibido o seu uso desde o início da década de 90.

O amianto é uma fibra comprovadamente cancerígena e os cidadãos do Norte já não aceitam mais se exporem a esse risco conhecido.

Entre as doenças relacionadas ao amianto, estão a asbestose (doença crônica pulmonar de origem ocupacional), cânceres de pulmão e do trato gastrintestinal e mesotelioma, tumor maligno raro e de prognostico sombrio, que atinge a pleura e o peritônio e tem um período de latência em torno de 30 anos.

A asbestose é uma doença pulmonar profissional provocada pela inalação de fibras de asbesto (uma das formas de pneumoconiose), em que há fibrose de pulmão. Ocorre em operários e mineiros de asbesto/amianto. A inalação de fibras de asbesto pode produzir tecido cicatricial (fibrose) dentro dos pulmões. O tecido pulmonar com fibrose é incapaz de expandir e contrair normalmente, perde sua elasticidade. A gravidade da doença respiratória depende do tempo de exposição e da quantidade inalada.

A asbestose se caracteriza por falta de ar progressiva, aparecendo mais comunmente depois de 20 anos de exposição; a falta de ar representa a primeira manifestação; também há tosse e catarro, exame físico de pulmão alterado e, em alguns casos, cianose (cor azulada da pele e mucosas) e baqueteamento digital. Dentre os principais sintomas, há falta de ar resultante esforço, tosse, tensão torácica, dor torácica e anormalidades nas unhas ou união dos dedos.

Os exames que auxiliam no diagnóstico da doença são Raio X do tórax, provas de função pulmonar, tomografia computadorizada dos pulmões, podendo também provocar alteração no exame de níveis de enzima conversora de angiotensina (ACE). O diagnostico é feito através da historia clínica e de exames com a radiografia de tórax, que mostra espessamento e presença de placas na pleura (membrana que envolve os pulmões). A tomografia computadorizada é o melhor método para o diagnóstico.

Não existe cura possível, recomenda-se evitar futura exposição a asbestos. O tratamento de suporte dos sintomas pode incluir terapia respiratória para remover as secreções dos pulmões por meio da drenagem postural, percussão torácica e vibração. Pode ser necessária a utilização de um cateter de oxigênio (cânula) para oxigenação do paciente.

O prognóstico depende da duração e extensão da exposição; os mesoteliomas apresentam um prognóstico ruim, com risco de morte de 75% dos afetados durante o primeiro ano da doença.



De acordo com as respostas aos quesitos das partes, verifica-se que: a reclamante exerceu, na 1ª. reclamada, durante 8 anos, a função fiandeira; a atividade fabril da 1ª. reclamada era a produção de artefatos de amianto; a reclamante gozava de boa saúde antes de começar a trabalhar diretamente com amianto; mesmo que as rés tivessem tomado precauções previstas na legislação e recomendadas pela ciência média e os organismos internacionais de saúde, a asbestose dificilmente seria evitada, mas os efeitos certamente seriam minorados com a utilização de EPI; era impossível a Srª. Maria de Lourdes não padecer com o quadro clínico da doença por ela apresentada; a insuficiência respiratória causada pela asbestose causa grande sofrimento ao portador da patologia; nos autos, há referências a diversos outros casos de contaminação por amianto nas reclamadas e filiais; que, segundo a vasta documentação acostada aos autos, restou comprovado que a de cujus foi vítima de asbestose.



Concluiu o i. expert, considerando que a Fiocruz é referência em pesquisa e de seriedade incontestável; que o resultado da espirometria realizada em 1998; que a vítima permaneceu em exposição ao pó de amianto durante oito anos; que a causa mortis declarada em documento oficial foi por asbestose: “que a vítima era portadora de asbestose adquirida durante o pacto contratual entre ela e a ré, vindo a óbito em razão desta patologia, que a vitimou”.



A testemunha Vanda (fls. 2088/2089), assistente social da FIOCRUZ, declarou que, em 1995, o Dr. Hermano de Castro, Coordenador da Clínica de Pneumologia Ocupacional da FIOCRUZ, foi procurado pela Srª. Rosa Amélia, empregada da 1ª. reclamada e portadora de asbestose, sendo encaminhada à depoente para acompanhamento; que a Srª. Rosa Amélia indicou outros 100 trabalhadores da 1ª. ré com os mesmos sintomas seus, ocasião em que a FIOCRUZ passou a acompanhar este setor de trabalhadores; que nem todos apresentavam asbestose; que em 1998, a Srª. Maria de Lourdes foi entrevistada pela depoente, estando, na época, muito debilitada, depauperada, “pele e osso”; que a asbestose possuiu graus, sendo 03 o grau máximo, e a Srª. Maria de Lourdes apresentava grau 2,2; que as vítimas de asbestose não conseguem respirar e sofrem de insuficiência cardíaca; que a fiação, setor onde a Srª. Maria de Lourdes trabalhou por oito anos, é um setor de indústria têxtil muito exposto ao asbesto, em virtude da grande quantidade de poeira; que os entrevistados dos ramos da fiação relatavam que o espaço não possuía ventilação adequada e a empresa não fornecia equipamento de proteção adequado aos trabalhadores; que, após a exposição do trabalhador ao asbesto, inicia-se o período de latência, que leva em geral 15 anos, até o momento em que a doença é diagnosticada; que a latência da Srª. Maria de Lourdes durou oito anos (houve evidente erro de digitação, pois da dispensa em 1980 até o ano do diagnóstico, 1998, decorreram 18 anos); que o equipamento de proteção, ainda que fornecido, não evita a doença, apenas reduz a inalação; que na Europa o amianto encontra-se proibido, sendo substituído por outros materiais sintéticos, pois a inalação de uma pequena fibra pode ser cancerígena; que a asbestose não possui cura nem controle, apenas se pode evitar a evolução da inflamação; que, para se chegar ao diagnóstico da asbestose na FIOCRUZ, o RX de tórax do examinado passa pela análise de três médicos pneumologistas, sendo o paciente encaminhado à prova de função respiratória; uma vez que diagnosticada a doença, o grau é classificado conforme escala da Organização Nacional dos Trabalhadores, sendo o exame radiológico suficiente par diagnosticar a doença e não havendo necessidade de realização de biópsia, procedimento invasivo e desrespeitoso; que a Srª. Rosa Amélia faleceu em 2003, tendo, como causa mortis, a asbestose; que a maior parte dos falecidos acompanhados pela depoente provinha do setor de fiação.

O informante José (fls. 2090/2091), ex-empregado da 1ª. reclamada (de 1974 a 1997) e empregado da 2ª. reclamada (a partir de fevereiro/97), declarou se Supervisor de Segurança do Trabalho; disse que os empregados do setor de fiação recebem equipamentos protetivos respiratório (máscara com filtro próprio para fibra de amianto) e auditivo; que, além disso, há o sistema respiratório da máquina que capta a fibra de amianto e o aparelho que umidifica o ambiente e a fibra para que esta caia e seja aspirada pelo empregado; que “a empresa” segue os regulamentos de segurança existentes e realiza palestras de segurança para os trabalhadores periodicamente; que nunca soube de empregados das rés que tenham sido diagnosticados com asbestose; que a FIOCRUZ já fez inspeção na 1ª. reclamada, não se recordando o ano, não tendo feito nenhuma consideração, reclamação ou orientação para a área de segurança; que as máquinas inerentes à proteção já existiam desde a instalação da fábrica e as máscaras respiratórias passaram a ser distribuídas a partir de 1975; que na área de fiação existia fibra de amianto em suspensão no ar.

Pelas provas produzidas nos autos, documental, pericial e testemunhal, não há dúvidas a este Juízo de que a Srª. Maria de Lourdes efetivamente adquiriu asbestose por força do labor desenvolvido na 1ª. reclamada, no setor de fiação, por oito anos, restando comprovado o nexo de causalidade.

É desnecessária a prova da culpa do empregador, visto que a atividade por ele exercida implica, por sua própria natureza, risco acentuado para o empregado, a teor do art. 927, p. único, do CCB – inteligência da SÚMULA Nº. 25 do TRT da 1ª. Região.

Ora, não há como negar o elevadíssimo risco causado aos empregados expostos ao amianto, em razão da inalação de suas fibras, comprovadamente cancerígenas, tanto que o amianto passou a ser conhecido com “poeira assassina”, sendo banido em diversos países do mundo.

A responsabilidade das rés é objetiva.

O dano moral pela perda da mãe, avó e esposa é inquestionável, tratando-se da modalidade de dano moral in re ipsa (presumido), ou seja, independe da comprovação do dano sofrido pela vítima.

Restaram, assim, configurados os pressupostos da responsabilidade civil. A fim de arbitrar o valor do ressarcimento, o juiz deverá analisar as circunstâncias do caso, avaliando a gravidade da conduta, a extensão do dano, as condições pessoais da vítima e do ofensor, de forma a fixar uma quantia que não leve o ofensor à ruína nem propicie um enriquecimento sem causa da vítima. O valor deve ser fixado de forma equitativa, com bom-senso e razoabilidade, em razão de seu caráter pedagógico-punitivo.

Considerando todos os parâmetros acima, fixa-se:

. para o 12º. reclamante (LUIZ VIANEL – marido da vítima): R$ 300.000,00 (trezentos mil reais);



. para o 1º., 3º., 8º. e 11º. reclamantes (ICLEA LIMA DOS SANTOS DE SOUZA, ILANA DOS SANTOS RANGEL, IRAN LIMA DOS SANTOS E SILVANA LIMA VIANEL GOMES – filhos da vítima): R$ 200.000,00 (duzentos mil reais para cada um);



. para o 2º., 4º., 5º., 6º., 7º., 9º. e 10º. reclamantes (ALYNE SANTOS DE SOUZA, JOIL DOS SANTOS RANGEL, HELEN DOS SANTOS RANGEL, DIANA DOS SANTOS RANGEL, LAYLSON DOS SANTOS RANGEL, IRAN MIGUEL DOS SANTOS E VICTOR MIGUEL DOS SANTOS – netos da vítima): R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais para cada um).



Totalizando R$ 1.450.000,00 (hum milhão quatrocentos e cinquenta mil reais), valor a ser atualizado a partir da data da publicação da sentença.



Procede (m) o pedido formulado na alínea F do rol de pedidos do 2º. reclamante e na alínea A do rol de pedidos dos demais reclamantes, nos termos da fundamentação.



INDENIZAÇÃO POR DANOS MATERIAIS – PENSÕES VENCIDAS E VINCENDAS (LUCROS CESSANTES):

Sebastião Geraldo de Oliveira, juiz do TRT da 3ª. Região, Mestre em Direito pela UFMG e professor do Curso de Especialização em Medicina do Trabalho da Faculdade de Ciências Médicas de belo Horizonte, em sua obra “Indenizações por acidente do trabalho ou doença ocupacional”, Ed. LTr, 2ª. ed., tece várias considerações acerca das indenizações nos acidentes do trabalho com óbito (fls. 204 e seguintes):

- pensionamento do cônjuge ou companheiro: “Em princípio, o prejudicado mais visível pela morte do acidentado é o cônjuge, sobrevivente, pelo desfalque imediato sofrido nos rendimentos familiares. Assim, não resta qualquer dúvida quanto à sua condição de beneficiário das indenizações dos lucros cessantes, deferida na forma de pensionamento mensal. (...) A pensão é devida independentemente da condição econômica cônjuge, já que se trata da reparação de prejuízos, e não garantia de alimentos em sentido estrito.

(...) A pensão decorrente da responsabilidade civil do empregador tem natureza jurídica de reparação de danos, razão pela qual o novo casamento ou união estável do cônjuge supérstite não deve implicar a interrupção do pensionamento. O novo vínculo afetivo não afasta ou sequer atenua o ato ilícito que provocou a morte, e, portanto, não pode ter influência nas reparações a que tem direito o cônjuge ou companheiro prejudicado”.

- base de cálculo da pensão: “Sendo reparatória a natureza jurídica da pensão, a sua base de cálculo deve ser apurada considerando os rendimentos que a vítima percebia e não as necessidades dos beneficiários.

(...) Pelo princípio da restitutio in integrum que orienta o cálculo da indenização, deve-se apurar os rendimentos efetivos da vítima, computando-se o valor do seu último salário, mais a média das parcelas variáveis habitualmente recebidas, tais como horas extras, adicional noturno, insalubridade, periculosidade, acréscimos previstos em convenções coletivas, etc.



(...) Além das parcelas mencionadas da remuneração, o valor relativo ao 13º. salário deve ser acrescido, pelo seu duodécimo ou então determinar que no mês de dezembro de cada ano haja uma prestação ad equivalente a tal vantagem. (...) (grifo acrescido)

Por outro lado, não cabe a integração no pensionamento da parcela referente às férias porque tal direito não representava aumento da renda anual do acidentado, já que seu principal objetivo era o repouso mais prolongado. É razoável, todavia, computar o acréscimo correspondente ao adicional de 1/3 sobre as férias, também pelo seu duodécimo, porquanto esse valor compunha o conjunto dos rendimentos ao longo do ano. Também os valores do FGTS não devem ser incluídos na base de cálculo da pensão porque não faziam parte da renda habitual do trabalhador. (grifo acrescido)

O cálculo da indenização tem como objetivo restaurar, do ponto de vista material, a situação existente antes do óbito. Para atingir esse propósito, a apuração do quantum da pensão deverá retratar com fidelidade os ganhos que efetivamente o acidentado morto auferia, tomando-se o cuidado para que a indenização não se transforme em fonte de enriquecimento nem em causa de empobrecimento dos beneficiários.

(...)

Com o apoio no princípio mencionado, percebeu-se que o deferimento da pensão pela totalidade dos rendimentos da vítima, no caso de homicídio, mostra-se excessivo ou repara além do real prejuízo porque não leva em consideração que a vítima despendia parte dos rendimentos com o seu próprio sustento e despesas pessoais. (...)

Diante dessa constatação, Supremo Tribunal Federal passou a entender que, da base de cálculo do pensionamento, dever-se-ia deduzir o valor correspondente a 1/3, como presumíveis despesas pessoais da vítima, sendo que tais decisões serviram de paradigma para consolidar o entendimento na jurisprudência. (grifo acrescido)

- termo final da pensão: (...) O Código Civil de 2002, todavia, trouxe inovação significativa nesta questão. O texto do art. 948, II, agora é claro ao estabelecer que a pensão no caso de homicídio por ato ilícito deve levar em conta a duração provável da vida da vítima. (...)

A pesquisa da duração provável da vida da vítima, conforme determina o novo Código Civil, ficou muito mais facilitada por uma mudança ocorrida na legislação previdenciária. A Lei nº. 9.876/99, que introduziu o fator previdenciário para o cálculo dos benefícios das aposentadorias por idade ou por tempo de contribuição, acrescentou dois parágrafos importantes no art. 29 da Lei nº. 8.213/91, que tratam exatamente da expectativa de sobrevida (§7º. e §8º.).

(...)

No mesmo ano de 1999, o Decreto nº. 3.266 regulamentou a periodicidade e a publicação anual da tábua completa de mortalidade pelo IBGE.

(...) Entendemos, todavia, que o mais correto será considerara mesma tábua de mortalidade, porém adotando a projeção correspondente ao sexo do acidente, já que o comando indica a sobrevida específica da vítima.” (sem grifos no original)



Desta forma, são fixados os seguintes parâmetros para o cálculo do pensionamento:

1. a base de cálculo do valor mensal da pensão consistirá no último salário da vítima acrescido da média atualizada dos último 12 meses das parcelas variáveis, do terço de férias, pelo seu duodécimo, e do 13º. salário, também pelo seu duodécimo, como apurar-se em liquidação por perícia contábil, as expensas das reclamadas, que deverão juntar aos autos os contracheques dos últimos 12 meses de vigência do contrato de trabalho da Srª. Maria de Lourdes;

2. da base de cálculo do pensionamento, deverá ser deduzido o valor correspondente a 1/3, como presumíveis despesas da falecida; o valor encontrado deverá ser reajustado sempre pelos mesmo índices de atualização monetária dos salários da categoria dos empregados das rés, também como apurar-se em liquidação por perícia contábil;

3. obtido, segundo os parâmetros definidos no item anterior, o valor atualizado na data da sentença, este será convertido para salários mínimos – Súmula n. 490 do E. STF;

4. a Srª. Maria de Lourdes faleceu com 55 anos; sua expectativa de sobrevida, com base na tabela do IBGE (tábua completa de mortalidade) para as pessoas com sexo feminino, era de 26 anos; logo, a pensão (parcelas vencidas e vincendas) será devida por 26 anos, a contar da data do falecimento da Srª. Maria de Lourdes, em 23/09/00, ou seja, até 23/09/2026.



Procede(m) em parte o(s) pedido(s) contido(s) na(s) alínea(s) A a D do rol de pedidos do 12º. reclamante, nos termos da fundamentação.



DANOS EMERGENTES:

O 12º. reclamante postula “luto, funeral e sepultura perpétua”, acreditando o Juízo que, em verdade, esteja requerendo a indenização por danos materiais decorrentes de gastos com funeral e sepultura (art. 948, I, do Código Civil); doutrina e jurisprudência entendem que tais valores estão incluídos nos danos emergentes, podendo outros danos comprovados ser objeto de ressarcimento. Ocorre que as despesas devem ser comprovadas mediante recibos detalhados ou notas fiscais, inexistentes nos presentes autos.

No entanto, conforme explica Sebastião Geraldo de Oliveira (obra citada), “Segundo Sérgio Cavalieri, se as despesas com funeral não forem comprovadas com documentos, a jurisprudência tem arbitrado uma verba de até 5 salários mínimos, por entender tratar-se de despesa inevitável. Por mais humilde que seja a família da vítima, não deixará um ente querido ser sepultado como indigente numa vala comum. Isso nada mais é que a aplicação de uma regra de experiência comum”.

Desta forma, faz jus o 12º. reclamante a (cinco) salários mínimos a título de danos emergentes, cuja época(s) própria(s) para atualização será o dia seguinte ao do óbito.

Procede o pedido contido na alínea E do rol de pedidos do 12º. reclamante, nos termos da fundamentação.



CONSTITUIÇÃO DE CAPITAL:

O art. 602 do CPC estabelece que, toda vez que a indenização porá toa ilícito incluir prestação de alimentos, o juiz, quanto a esta parte, condenará o devedor a constituir um capital, cuja a renda assegure o seu cabal cumprimento.

As parcelas vencidas serão executadas na forma comum; as vincendas, com a garantia do art. 602 do CPC.

O capital constituído por imóveis ou por título da dívida pública será inalienável e impenhorável, enquanto durar a obrigação do pensionamento – art. 602, 1º., CPC.

Os bens indicados permanecem na posse do devedor, mas os rendimentos servirão para garantir o pagamento mensal da pensão. Somente quando cessar a obrigação é que o juiz fará a liberação do gravame – art. 602, § 4º., CPC.

Em execução deverão os autores indicar os bens objeto da constrição, devendo a Secretaria da Vara expedir mandado de registro ao cartório competente.

Procede o pedido contido na alínea I do rol de pedidos do 12º. reclamante, conforme fundamentação.



JUROS DE MORA E CORREÇÃO MONETÁRIA:

Os juros de mora são devidos na forma da lei – art. 39 da Lei n. 8.177/91 -, no percentual de 1% a.m. simples, a partir do ajuizamento da ação.

A correção monetária é devida na forma já estipulada no bojo da sentença.

Procede(m) em parte os pedidos formulados nas alíneas G e H do rol de pedidos do 2º. reclamante, e nas alíneas B e C do rol de pedidos dos demais reclamantes, conforme fundamentação supra.

GRATUIDADE JUDICIÁRIA:

A gratuidade judiciária deve ser concedida a todo empregado que perceba salário igual ou inferior ao dobro do mínimo legal, ou que, percebendo salário superior, declare não possuir condições de arcar com as despesas do processo sem prejuízo de seu sustento e de sua família (art. 790, parágrafo 3º., CLT).

Defere-se a gratuidade, pois os autores se afirmaram pobres juridicamente.

Procede o pedido.



HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS:

Os honorários advocatícios, no processo do trabalho, não decorrem da sucumbência, sendo devidos apenas quando preenchidos os requisitos da Lei n. 5.584/70.

Na hipótese, os reclamantes preenchem um destes requisitos, porque beneficiários da justiça gratuita, porém, não estão assistidos por seu sindicato, outra exigência legal.

Improcede o pedido.



PELO EXPOSTO,

Esta 9ª. Vara do Trabalho do Rio de Janeiro rejeita a(s) preliminar(s) de coisa julgada e de ilegitimidade passiva ad causam da 2º. reclamada, afasta a prejudicial de prescrição total e, no mérito propriamente dito, julga PROCEDENTES EM PARTE os pedidos, deferida a gratuidade judiciária aos reclamantes, para condenar as reclamadas, solidariamente, a pagarem aos reclamantes ICLEA LIMA DOS SANTOS RANGEL, ALYNE SANTOS DE SOUZA, ILANA DOS SANTOS RANGEL, JOIL DOS SANTOS RANGEL, HELEN DOS SANTOS RANGEL, DIANA DOS SANTOS RANGEL, LAYLSON DOS SANTOS RANGEL, IRAN LIMA DOS SANTOS E VITOR MIGUEL DOS SANTOS; SILVANA LIMA VIANEL GOMES E LUIZ VIANEL, no prazo legal, como apurar-se em liquidação de sentença, por meio de perícia contábil, os títulos arrolados na fundamentação supra, que este dispositivo integra.

Juros e correção monetária ex vi legis (Lei n. 8.177/91 c/c art. 883 da CLT).

A verba ora deferida possui natureza indenizatória, não havendo incidência de contribuição previdenciária, nem imposto de renda.

Expeça-se ofício ao INSS, com cópia desta sentença, para os fins previstos no art. 832, §4º., da CLT.

Com trânsito em julgado desta decisão, expeçam-se ofícios ao Ministério Público do Trabalho e Ministério do Trabalho, com cópia desta sentença, para adoção das providências legais, em razão das irregularidades acima apontadas.

Atendendo a Recomendação Conjunta GP.CGJT nº. 02/2011, remeta-se cópia desta sentença à Procuradoria Regional Federal da 2ª. Região – Rio de Janeiro, por intermédio do e-mail prf2.regressivas@agu.gov.br, a fim de subsidiar eventual ajuizamento de Ação Regressiva, nos termos do art. 120 da Lei n. 8.212/91, uma vez ter sido reconhecida conduta culposa do empregador em acidente de trabalho.

Custas de R$ 40.000,00, calculadas sobre o valor de R$ 2.000.000,00, arbitrado à condenação para este efeito específico, na forma do art. 789, IV e §2º., da CLT, pelas rés.

Ficam as partes advertidas desde já que, na hipótese de interposição de Embargos de Declaração manifestamente protelatórios, pretendendo a reforma da decisão e/ou a reapreciação das provas, o juízo irá aplicar multa no percentual de 1% sobre o valor da causa (art. 538, p. único, do CPC) e, em caso de reiteração de embargos protelatórios, a multa elevar-se-á para até 10% sobre o valor da causa.



Intimem-se as partes.

E, para constar, lavra-se a presente Ata que vai assinada na forma da lei.







RAQUEL PEREIRA DE FARIAS MOREIRA

Juíza do Trabalho